sábado, 18 de novembro de 2017



eras tu, a árvore da minha vontade
de voar para onde as aves
falam de naufrágios
e de arribas
escondidas


pela erosão fácil da alma.

perdi os dias a falar com as ondas,
e as noites à procura do ar
lento que as aves
soletram,
apátridas

como as almas que deambulam
ao largo, onde o sargaço se move
e a praia é um lugar longe.

longe de ti, longe de mim
e do mundo das pessoas,
procurei ainda a sombra
azul das águas
entristecidas

pelas marés estranhas do ser.

não soube ir além da foz e, todavia,
eis o sorriso fácil da árvore
da vida, nascido
dos teus olhos
e derramado
como luz sobre a maré

onde, outrora, me uni
às arribas fósseis da vontade
de navegar,

para, em ti, ser soluço,
voz de ave,
maré indissolúvel.

Susana Duarte


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