segunda-feira, 24 de setembro de 2018





há um poema por escrever 
onde a vida alucina e uiva,

onde as ondas são marés 
ruivas de desalento, e o poema


decadente
se inscreve nas veias 
azuis de todos os dias.

onde mora o poema, 
demoram-se as aves

apátridas
e os sonhos dúbios
das mulheres. são sempre dúbios,
os sonhos das mulheres.
são azuis e são negros 
e são brancos 
e vermelhos,

os sonhos das mulheres.
como os poemas por escrever,
as mulheres demoram-se
nos beirais dos dias. esperam

pelas aves, pelas palavras, 
pelos filhos, e por serem apenas

isso: mulheres, poemas por escrever,
apátridas como as noites
onde gatos ciciam diálogos

incompreensíveis, e caminham 
sós pelas ruas de antes.

Susana Duarte 

 sobre o silêncio  pesam as almas das aves, das mulheres sós e da amálgama de peles ao relento em terreno nú nas escadas paridas pelas dores...