quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

 Tenho nos olhos a veia côncava da vontade

de erguer sóis


onde o nada se agiganta.


Susana Duarte

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

 não consegues respirar:


          gritos silenciosos   

                  invadem o peito

                      cheio de lugares ocos.


não queres ouvir os ruídos 

                  que se propagam.


encontrar a luz: 

                               onde?


onde guardas os gritos 

                  que falam por ti,


junto às portas das gárgulas 

               que desenhaste nos ossos?


Susana Duarte


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 Caminhos

(ouvindo Laura Fygi, “Les feuilles mortes”)


da raiz à pedra, constrói-se um caminho,          semelhante ao percurso entre as mãos e o peito,

entre as folhas dos dedos e as grutas da boca,                                     e entre os desejos e o corpo.


os caminhos do desejo são construídos nas mãos,     e nos olhos,     e no cruzamento das peles.


entre mim e ti, a presença etérea da volatilidade das palavras.          escreveste-as onde não sei,

e acedes a elas através de memórias que não partilho.            o caminho é o do inevitável adeus

às lágrimas sussurradas nas noites vãs.   o caminho é o das névoas azuis dos sorrisos roubados,

entre as raízes dos jardins das mãos,                                      e as noites sublinhadas pela viagem. 


somos mónadas, e o caminho da evolução das folhas.


Susana Duarte

do livro Pangeia, não publicado


Caminho rente ao chão

 caminho rente ao chão

e não movo o tempo


ou as aves paradas cujos ossos

determinam o movimento 

do mundo.


caminho. destino-me ao tempo,

ao mundo e à incerteza 

dos passos.


Susana Duarte