quarta-feira, 30 de outubro de 2013

dormiria sob a luz dos teus olhos


dormiria sob a luz dos teus olhos,
em ti, anoitecendo 



e, em ti, caminhando


por sobre diagramas de linhas cruzadas
anoitecidas

desencontradas
e, talvez,

apenas...

linhas de vidas cruzadas, amibívios 
de escolhas
e soturnas melodias



anoiteceria em ti, onde as luzes

calam as sombras

e a vida 
se refaz, rarefeita que era,
sublime sombra de ténues olhares,

onde anoiteci


em teus olhos, adormeço e sinto

as formas das tuas mãos

que se desenham

e me desenham


e nos projetam lá, onde os olhos sobrevoam
as águas

das nossas línguas

e o suor das nossas mãos


adormeci em ti, e em ti 

soube da noite clara e eterna,

ao som das gotas e da chuva que, de teus braços,
desce
iluminando os poros

e dizendo-me quem sou.





susana duarte


domingo, 27 de outubro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

Do nosso amado Poeta Joaquim Pessoa

Dia 349. (excerto)

Ontem fui uma luz. Hoje sou uma luz.
Uma luz serei entre as tuas espáduas e no interior
da tua boca, na tua nuca incandescente, no ombro que
a minha língua percorre, faminta e transtornada.
A tua pele é um doce delírio, um fogo em território de paixão,
percorrido à velocidade desta luz. Sobre ela correm
animais assustados, fugindo da voracidade dos meus lábios,
dos meus dentes que mordem a surpresa.
E em cada centímetro do teu corpo beijo árvores e casas
de uma cidade branca onde Deus habita, e onde esvoaça
para o céu da minha boca um coro de anjos transparentes
que exultam aleluias no meu sangue.
O meu corpo é uma pátria de desejo. A tua boca
um poema manuscrito, dito em silêncio à minha boca
que mastiga as tuas palavras de seda, e de sede.
E de incêndio.

*

Joaquim Pessoa
in ANO COMUM, 2.ª Ed.
(Introd. de Robert Simon; Posf. Teresa Sá Couto)
Editora Edições Esgotadas, 2013.

sábado, 19 de outubro de 2013

Mágoa



o espaço concomitante à mágoa
é o espaço mais amplo da vida:

onde aves piam sonoras,
quimeras ecoam
nas ruas,



nuas.



susana duarte



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

_____________________________ainda há pessoas bonitas______________________________


"No mar não há primavera nem outono. No mar o tempo não morre", disse Sophia de Mello Breyner Andresen, em "A menina do mar"...


No tempo que não morre, inscrevem-se as pessoas bonitas da nossa vida. 

A essas pessoas, que estão a meu lado e, comigo, caminham por sobre as navegações dos dias, não abandonando as flores e as dores que caracterizam uma vida plena, aqui fica uma palavra de eterna e profunda gratidão. 


Todas aquelas que não permanecem, ficarão sempre como parte de uma história de vida.
Para elas, até sempre. 




domingo, 13 de outubro de 2013

Sylvia Plath (1932 - 1963)
Mad Girl's Love Song


"I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)

The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)

God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)

I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)"



Foto: retirada do Google imagens



caminho costeira 
por onde passam gritos,
através das rochas, areias e granitos 
e das conchas despegadas de sonhos e madrugadas.

Susana Duarte









...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Perché lei e Mattia erano uniti da un filo elastico e invisibile, sepolto sotto un mucchio di cose di poca importanza, un filo che poteva esistere soltanto fra due come loro: due che avevano riconosciuto la propria solitudine l'uno nell'altra.


Paolo Giordano, La solitudine dei numeri primi

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Tu nombre



Te imprimo en el borde de mis sentidos

donde el limbo apenas es un camino
salto de hoja en hoja y en la naturaleza viva de tus manos
abro mi boca sedienta del agua que sale de tu cuerpo

Ondeo las líneas de tu tallo y
me nutro con tu vida:

semilla,
fuente,
flor nocturna
y durazno rosado;
luz naciente
ángulo inexistente de una curva,
cuarto creciente
de mi luna.

te imprimo en el rincón ambiguo de los sueños
a la espera del sol naciente, cortante de mis venas

amplitud de navegación de las flores, en la cala
donde vestí las flores al mirarlas,

luz

cueva de lobos de una nueva montaña
donde imprimimos la especie, en los ojos azules de tu boca

te imprimo en el borde de mis sentidos
donde el limbo es el margen de la vida

por medio de encrucijadas y ligaciones extrañas
pero donde siempre reina tu nombre…


Susana Duarte
(poema e foto)
Tradução: Tiziana Calcagno