segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

[silêncio]





os sons da pele
sonham mãos
que dançam
(silêncio)
nos cílios
adormecidos
volteiam mãos
(inertes)
as mãos todas
sobre a pele
(outrora)
viva


Susana Duarte


domingo, 28 de fevereiro de 2016

Casa da Escrita, 25/02/16

João Rasteiro, Paulo Ilharco, António Vilhena, Susana Duarte











quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

quando amanhecer, não estarás aqui.



quando amanhecer, não estarás aqui.
serás só a sombra inóspita dos corpos-
amantes de ontem. quando amanhecer,
serás a névoa que antecede a chuva,
e os trigais ceifados dos meus olhos.

na insólita melodia dos corpos-amantes,
ficas apenas enquanto o sol amadurece
as mãos, e os corpos se digladiam 
sob o antecipado adeus. na triste
melancolia do corpo nú, antecedes
a manhã, e as chuvas de maio. quando
amanhecer, o teu corpo será o breve
traço de luz desenhado nos lagos.

quando amanhecer, procurarei por ti.
quando amanhecer, procurarás por mim.
mas teremos já partido para o lugar 
onde as águas se movem, e o dia
recomeçará em cada um de nós, 
insuspeito, inóspito como o deserto
de estarmos sós. quando amanhecer.

Susana Duarte

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

De João Costa




"se não houvesse tantos dias a separarem-nos as bocas..."

© João Costa . 15.fevereiro.2016







"Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer."

O Principezinho





NUNCA MAIS ACABAS DE PARTIR-Sarah Adamopoulos



Nunca mais acabas de partir
é um horror a tua viagem
para longe de mim, o teu
regresso a uma vida onde
não tenho lugar, o teu
regresso a um lugar onde
não faço sentido, a tua
infinita partida, os teus
despojos por todo o lado,
é um horror tu dentro de
todos os poemas.


Sarah Adamopoulos

Cheias em Coimbra-14/02/16. Filmagem de JMesquita.




quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



Há abismos que o amor não pode superar, apesar da força das suas asas.

___ Honoré de Balzac, "la peau de chagrin"



domingo, 7 de fevereiro de 2016



na minha mente vive a idade
de todas as idades, de todas as cidades,
de todos os mundos interiores e de todas as vidas invisíveis,
senhoras das marés etéreas de campos semeados de vento,
onde é contente todo o descontentamento de ser cidade
invisível no peito de todos os dias, e luares
e florescências da navegação ondulante
de seios florescidos na noite.


(no nada
caminham pedras,
solitárias pedras da calçada
de ruas desertas, de tudo ou do nada

que são os recantos onde foram erodidas rochas).

…desenhando a noite
nas esquinas da alma, onde
se escondem recantos de danças
e poemas de vidas vividas antigas pensadas
na calada da noite e no recanto dos olhos vivos,
escrevo sons no ar
que, de súbito,
se torna
Luz.

(Luz na água,
vida das ondas,
sonora imensidão dos peixes).


na terra,
a procura dos passos
perdidos e a inscrição dos olhos
na definição das pedras.
(com pedras,
invento castelos
onde encontro ameias


refém das asas

procuro as candeias
que alumiam o brilho oculto
do olhar, nas ideias arredias
de antigas penedias. abro as mãos
e perfumo de incerteza o dia
(desenhando as sombras
das árvores desnudas
que ainda não sei).


Não sabendo,

leio
nas entrelinhas
silabadas de um jornal antigo

palavra-sabor, palavra-abrigo.

Susana Duarte



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016



morre-se azul sob os escolhos de sal das (des)contruções
de areia. é no lugar das sementes, e dos sóis
verdes dos cabelos, que se morre azul.

com o sal das neblinas dos olhos, morre-se sombrio
ante as ondas submarinas do ventre, e escolhe-se
a vereda estranha dos dias salinos das lágrimas.
é no lugar delas que se morre, palavras
escorridas por entre as águas do peito.
são escuras, as palavras.
são claras, as palavras.


morre-se dentro delas, mar imprevisto de ondas alteradas.
morre-se. navega-se no sal dos cabelos, onde
o futuro é o olhar percorrido pelos dias
de antes.

morre-se. as ausências desmesuradas do sal
dos beijos são a morte silabada
dos dias.

os dias silabados serão sempre teus,
pequenos e intermitentes,
como a morte dos dedos.

mas serão dela, da mulher, os dias escritos com o sal-flor
das mãos inteiras.

susana duarte