domingo, 2 de agosto de 2020



espero por ti, 

como se espera por um fantasma,

e caminho na noite 

como se as esquinas me devolvessem 

o sorriso de outrora.




espero pelo teu regresso

e não alcanço senão o dedo esticado

(por mim) a oriente.




não sei onde moram os beijos

prometidos, ou a sensação latente

do teu regresso. partiram contigo




e, todavia, espero ainda pelas mãos,

as tuas, 

pelo toque das palavras,




e pelos dias da mansidão clara

das quimeras.




espero, ainda, que tragas contigo

a suavidade das maçãs rubras

do desenho dos corpos,




a metafísica das águas,

e a iluminada crença

na paixão com que delimitas




os meus passos, me cerceias 

as asas

e destróis os beijos.




melhor seria ver-te desfazer

os espectros com que me rodeias

e dar lugar ao vôo largo

de outras chegadas.




Susana Duarte