não sei do que falas, quando falas de mim.
talvez fales de um tempo perdido,
ou de nuvens lenticulares.
talvez fales de uma ave perdida sobre a espuma
das ondas marinhas,
ou sobre as ondas do ventre onde te moves-
e essas ondas são-me desconhecidas,
como a lentidão dos dias.
não sei do que falas,
quando falas dos dias anteriores a ti.
se falasses de mim,
não escreveria sobre a chuva,
ou sobre os gatos nas balaustradas;
não escreveria palavras de dor,
ausência
e saudade.
não sei do que falas. não sei, sequer,
se tens um nome-
pareces ser feito da mesma matéria
de que são feitas as quimeras,
ou as ondas que me percorrem quando,
despida de mim, me deixo enredar pelo algaço
e pela areia.
talvez nem existas.
exististe, todavia, onde o meu corpo
deixou de ser meu por um breve,
intenso (talvez fantasmático)
momento.
Susana Duarte