sobre o silêncio
pesam as almas das aves,
das mulheres sós e da amálgama de peles
ao relento
em terreno nú
nas escadas paridas pelas dores
de alguma desconhecida
só
sobre o monte úmbrio
dos sonhos
e os braços das mulheres
(fortes e redondos e duros e içados ao vento
como os mastros das naus e as asas
de um qualquer deus que rumou ao sol)
sob o silêncio
(ou dele)
nascem rochas perenes devassadas
pelos ventos do norte
ou pelas pernas caminhantes das mulheres
(outrora véu negro sobre os cabelos)
e elas caminham e caminham e caminham
rumo a um deus qualquer,
embutido de um qualquer orgulho nado-vivo
ecce homo
ecce mulier
quem somos? o que somos, quando a mágoa
enche os redutos do pensamento
e os poros
e os dedos nascidos dos trevos
e as poções declinadas ao relento
e as mulheres caminham e caminham
e caminham por sobre o silêncio
e as aves
e as peles
e o sangue que perdura
ou se perde
por entre pernas doridas paridas pelos dias
ecce femina
e os sobressaltos
não são mais do que noites de sono
sem fundo
e vozes antigas
e pele
e nada.
(talvez)
Susana Duarte