sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

 sobre o silêncio 

pesam as almas das aves,

das mulheres sós e da amálgama de peles


ao relento


em terreno nú


nas escadas paridas pelas dores

de alguma desconhecida 


só 


sobre o monte úmbrio

dos sonhos


e os braços das mulheres 


(fortes e redondos e duros e içados ao vento

como os mastros das naus e as asas 

de um qualquer deus que rumou ao sol)


sob o silêncio 

(ou dele)

nascem rochas perenes devassadas 

pelos ventos do norte


ou pelas pernas caminhantes das mulheres 

(outrora véu negro sobre os cabelos)


e elas caminham e caminham e caminham


rumo a um deus qualquer,

embutido de um qualquer orgulho nado-vivo


ecce homo

ecce mulier


quem somos? o que somos, quando a mágoa

enche os redutos do pensamento 

e os poros 


e os dedos nascidos dos trevos

e as poções declinadas ao relento


e as mulheres caminham e caminham

e caminham por sobre o silêncio 

e as aves

e as peles


e o sangue que perdura

ou se perde


por entre pernas doridas paridas pelos dias


ecce femina


e os sobressaltos

não são mais do que noites de sono 

sem fundo


e vozes antigas

e pele


e nada.


(talvez)


Susana Duarte


 sobre o silêncio  pesam as almas das aves, das mulheres sós e da amálgama de peles ao relento em terreno nú nas escadas paridas pelas dores...