chama pelo meu nome, quem me dera ouvir-te chamar pelo meu nome como chamaste
as aves sem céu, as aves perdidas
sobre o vôo lento das ondas, as aves em mim contidas e em ti nascidas, as aves, as flores
tantas flores, as tuas amadas flores,
as tuas amadas aves, em cada uma das manhãs
reclamadas pelo sangue
dos dias, recompensados pelo encontro
e pela suavidade de terminar, nesse encontro,
a tua solidão diária, eterna, só como o meu nome, que me deste e que é teu
chama-me pelo nome, chama-me, em sonhos talvez...chama-me, ouve-me as súplicas e olha para mim. em todas as auroras
percebidas e, sobre cada uma
das manhãs antecipadas pela lágrima
chuvosa da ausência, constrói-me os dias
da redenção. constrói -me os dias, fala comigo, diz-me que sabes que mudou tudo
e oprime as lágrimas, as minhas.
devia oprimi-las, por te saber serena, sorridente, saudável, plena como eras
antes dos dias,
daqueles dias,
dos anos roubados pelo medo e pelas veias e pelas tonturas, antes desses dias, eras feliz e
sorrias.
digo o teu nome, e corre por entre as ruas
a sombra da sombra do meu ser antigo,
aquela que eu era, sem saber o que era,
e agora sei o que queria, só agora que não te tenho perto, nesta maldita segregação dos
corpos
e dos olhares. movo-me
sobre a lâmina fina da tristeza, onde me dizem que não posso, que o tempo,
que o tempo.....o tempo, nada! o tempo não sara, não cura, não aquece
o tempo, nada!
parem de me dizer que o tempo
o tempo
o tempo
quando o tempo...nada!
o tempo rouba, roubou-me a alma
escrita numa noite
número sete, quase 8, de um dia roubado ao tempo que me dizem ser a cura. a cura de quê?
a cura? voltas? voltas desse dia 7, desse dia quase 8, morte prematura no dia nascituro
de um destino que eu não quis,
que eu não quero?
sabes onde estou, porque caminhas
por entre os ares e as luzes e as gotas
das águas desafiadas pela conjunção das imagens
que nos povoaram os dedos
e que, agora, me deixam por entre flores
solitárias e aves que oiço a querer
que as ouvisses. e não te oiço, e desespero
e quero-te aqui, aqui, por entre os vasos
que multiplico desejando que os vejas
e apenas os dedos multiplicam
manhãs novas e gritos lúgubres na pele de ser ave que não te vê.
chama-me. chama-me.
Tua filha, para sempre.
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