sexta-feira, 14 de novembro de 2025

 a tristeza é um túnel 

onde a procura do sal e do fogo

nada diz (aos outros)  sobre as ausências 

(que são as nossas).


sei do sal e do fogo

das ausências, e da morte que me enterra


onde, dantes, julgava ver eternidade.


nos lugares dos fogos-fátuos

e das flores 

e das velas 

residem anjos antigos 

e reencontros


de alma e de lágrimas,

de fé onde ela resiste

e de morte da fé onde as ausências 

se tornaram insuportáveis.


fugir da tristeza

(ainda que dela fujamos)

é cair no poço lamacento de não ser nada


(mesmo que tenhamos sido tanto).


a tristeza incomoda os outros

quando não sabem o que fazer dela:

dão-lhe um tempo para existir, 


um tempo normal, dizem (depois,

tens que aceitar a partida 

e viver): afinal, "ela não quereria que fosse assim".


e assim é, nas horas azuis e brancas 

da saudade e da falta da voz 

e da mão carinhosa que se dava ao serão 

sobre um sofá.


a tristeza devia ser banida dos olhos

de quem é triste, ser ocultada 

das ruas e das vielas


e permanecer quieta sob as águas

de um chuveiro 

ou sobre os lençóis 

ou mesmo junto das flores


onde ninguém vê e, assim, ninguém sofre 

as dores dos outros.


a tristeza tomou conta 

das ruas por onde caminho, 

por entre folhas caídas na calçada 

e rosas outrora tocadas pelas tuas mãos.


2/11/2025

Dia dos Fiéis Defuntos


Uma oração mais por ti ✨🙌✨🤍🙏


....e por nós.


Tua filha, Susana.

Maria Elisa Ribeiro  ✨🙌🤍minha querida mãe ✨

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A Maria Elisa Rodrigues Ribeiro, minha querida e amada Mãe

 chama pelo meu nome,  quem me dera ouvir-te chamar pelo meu nome            como chamaste 

as aves sem céu,             as aves perdidas 

sobre o vôo lento das ondas, as aves em mim contidas e em ti nascidas,      as aves, as flores


tantas flores, as tuas amadas flores, 

as tuas amadas aves, em cada uma das manhãs 

    reclamadas pelo sangue

        dos dias, recompensados pelo encontro 

 e pela suavidade de terminar, nesse encontro,

          a tua solidão diária, eterna, só como o meu nome, que me deste e que é teu


chama-me pelo nome, chama-me, em sonhos talvez...chama-me, ouve-me as súplicas e olha para mim.                  em todas as auroras

percebidas e, sobre cada uma 

das manhãs antecipadas pela lágrima 

    chuvosa da ausência,    constrói-me os dias 

      

              da redenção. constrói -me os dias, fala comigo, diz-me que sabes que mudou tudo 


e oprime as lágrimas, as minhas. 

       devia oprimi-las, por te saber serena, sorridente, saudável, plena como eras

antes dos dias, 


daqueles dias, 

dos anos roubados pelo medo e pelas veias e pelas tonturas, antes desses dias, eras feliz e    

               

             sorrias.


digo o teu nome, e corre por entre as ruas

             a sombra  da sombra do meu ser antigo,

aquela que eu era, sem saber o que era, 

e agora sei o que queria, só agora que não te tenho perto, nesta maldita segregação dos  

   corpos 


e dos olhares. movo-me 

     sobre a lâmina fina da tristeza, onde me dizem que não posso, que o tempo, 

        que o tempo.....o tempo, nada! o tempo não sara, não cura,       não aquece


o tempo, nada! 

parem de me dizer que o tempo

o tempo

o tempo


quando o tempo...nada! 

o tempo rouba, roubou-me a alma 

      escrita numa noite 

    número sete, quase 8, de um dia roubado ao tempo que me dizem ser a cura. a cura de quê? 

a cura? voltas? voltas desse dia 7, desse dia quase 8, morte prematura no dia nascituro 


de um destino que eu não quis, 

que eu não quero?


sabes onde estou, porque caminhas

    por entre os ares e as luzes e as gotas 

das águas desafiadas         pela conjunção das imagens

        que nos povoaram             os dedos

e que, agora, me deixam por entre flores 

     solitárias e aves que oiço a querer 

que as ouvisses. e não te oiço, e desespero


e quero-te aqui, aqui, por entre os vasos 

que multiplico desejando que os vejas


e apenas os dedos multiplicam

      manhãs novas e gritos lúgubres na pele de ser ave que não te vê.


chama-me. chama-me.


Tua filha, para sempre.




💐✨✨🤍✨✨💐

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

 06/08/2025


em crescendo,

soluçam em mim dias e noites vazias


onde, dantes, caminhava ao teu lado.


queria tanto ver-te em sonhos.


queria tanto que nascessem dos meus olhos

os dias de antes.


o teu canto, alto e suave 

onde as paredes ecoavam vozes,

está onde não o oiço.


a falta da carícia dos teus dedos finos

-toque de harpista delicado-

envidraça-me numa cúpula 


onde me tremem as mãos e a voz,

e o meu peito


frio


e órfão de mãe e de vida.


6 meses sem ti, Gui, minha mãe ✨🤍🌌

Que data maldita.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

 Maria Elisa Ribeiro 🙌 🤲 ✨ 


a Palavra Mãe beija-me os olhos:


eis as lágrimas fugidas dos rios 

desviados da voz que não ouço; eis as palavras que não me devolvem o Tempo 

de semear cerejas 

e colher Alegria.


nas batidas cardíacas do dia, procuro

o Olhar do Reencontro, a luz, o abraço terno 

que de ti nascia, garça verde 


que se alimentava de água, bebendo nas gotas 

da noite a Palavra que celebraria 

em cada Lua Nova.


queria  semear as tuas palavras

na voz do vento, para delas me nutrir

e  encontrar Alento. queria ouvir a tua voz.


é no teu nome que adormeço, silente,

onde o sal dos olhos me entristece os dias.


a Palavra Mãe beija-me os olhos:


cegos,

escassos, desconhecedores 

da imensidão do que antes me era ignoto-

a tristeza de não te amparar os passos. 


na hora da partida,

o ser humano que mais dificilmente perdoamos 

é a nós próprios. somos vãos. 


não somos nada, quando os lábios 

da Mãe deixam de nos beijar

os olhos sedentos.


Tua filha, Susana 🫂🌌💐

quarta-feira, 30 de julho de 2025

 a noite breve


   foi  corrompida pelo amanhecer 

                             da partida.


cantarei as rosas almejadas 

             nos jardins inexistentes 

manipuladas pelos teus dedos    delicados  

                     e as auroras desfolhadas 


           por onde o teu corpo      de luz 

                  se passeia             agora. 


 iluminarei velas antigas, 

          na lembrança  da  solar claridade 

                          da tua presença, 

                          e da voz,

                          do abraço, 

                          do beijo materno 


                                       que a vida me deu 


e, de súbito, me retirou 


                             e não mais me devolveu. 


cantarei os teus  braços eternos, 

     as  carícias longas das tuas mãos 

           

       e as (agora) longas estações 

              semeadas nos abraços


         que demos e que, agora, não  damos. 

           


         cantarei 

              as manhãs de outrora,

                  onde se ouvia claro o teu "bom dia". 


mais não tenho, senão o recordar.


Minha mãe ✨

Maria Elisa Rodrigues Ribeiro 🙌 🤍 





quinta-feira, 19 de junho de 2025

 e agora, dormes.


velo o teu sono (habito-o?) 

onde a morte te apartou de mim


e o vento tudo derruba

dentro do meu peito triste.


só as aves poisam serenas,

libertas


sobre o nada e os acasos

e a fruta madura.


e agora, dormes.


só a luz te leva para o lugar

das maçãs camoesas, 

ou das estrelas luzentes

       da vida


que te trouxe um dia a mim: útero,

alma, peito e vida.              dormes.


nada sei. 

dormes onde abraças 


           o que não alcanço.


a vida que em ti dorme

transforma os frutos

e dá-me a sede


     outrora desconhecida.


Susana Duarte


Mais um dia sem ti, minha mãe, Maria Elisa Ribeiro , minha protecção no céu infinito ♾️.

domingo, 15 de junho de 2025

 esqueci-me dos sonhos de ontem

quando o serão, desolador, 

se despediu da noite


e a noite, essa, anunciou a madrugada 


em que  os passos se perderam


(tanto quanto o corpo

se apartou da pele,


e a pele, dos ossos,

e os ossos, da alma,


e a madrugada anunciou a despedida 

da ave, 

de todas as aves,

de todas as primaveras vindouras).


não esqueço a madrugada silente, 

embora migre em cada noite  

para o lugar do oblívio


(onde me deixaste, vivem as palavras

despudoradas


da existência 

de todos os que continuam, 


a cada dia,


a usar cada um dos vôos

que nos ensinaste, cada ave falando de ti,


cada uma delas a pena

e o osso

e a pele 

e a memória 


que me veste desde o avesso da pele,

residindo tu em cada célula,

movimento, 

fôlego 


e mirada).


Susana Duarte 


Contigo, minha mãe, Maria Elisa Ribeiro 🙌 🤍 ✨ 


Susana Duarte


 a tristeza é um túnel  onde a procura do sal e do fogo nada diz (aos outros)  sobre as ausências  (que são as nossas). sei do sal e do fogo...