Há um cavalo alado, de asas pretas na noite de fogo, que teima em não se fazer dia. A noite de fogo é uma miragem no deserto, perdido na vertigem de ser e não-ser.
O precipício que chama e repele e o medo abomina, é o cavalo alado que chama e fecunda a terra que o sublima.
Sabem a sal, a noite, o deserto, os grilhões. São pesados, os grilhões de ferro, ferro da raiz que não desponta. A semente. O grilhão.
A caneta escreve sem rumo, sem direcção.
Voou um grão de areia para o universo, e no universo se perdeu. Um grão de areia, mícron no cosmos…o caos. Do caos emerge o cavalo que prendeu as asas. Suas crinas negras clamam pelo caos. Sugam as estrelas e a luz, que desaparecem no buraco negro de pó universal, verdadeiro colapso de Oppenheimer-Snyder.
No buraco negro não há lei nem ordem, apenas ausência de luz. Existe como o mais absoluto não-lugar. É lá que o cavalo alado queria ficar.
A partícula de sonho que o domina, quer um sítio onde morar. Um lugar que não existe, a Utopia. Utopia é o real por concretizar, um mundo paralelo: viver debaixo do mar. Encontrar uma sereia que canta o cavalo alado e o faz alucinar.
Impressões, vozes, delírios, na noite de fogo que se fez breu. Onde fica o real, se o Real se perdeu?
A Utopia, a alucinação, a realidade paralela. Ora perdida, ora encontrada, feita de areia, ou feita de nada.
É violento o silêncio que se impôs. É a ave que se solta e tem que voar. Uma asa de cera que derrete, outra com força para voar. Rémiges. Escrevem o voo numa folha de cartão, onde desenho o universo cabendo numa mão. A mão solta-se do braço que prende as asas do cavalo.
O cavalo agita-se, feroz. Já foi rio, agora é foz.
Desaguou no mar profundo e encontrou a Utopia, o seu real fantasmático.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Um grito: Ham-sa.
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
domingo, 7 de novembro de 2010
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Belissimo este texto, minha querida! Dentro de nós, há sempre um cavalo alado que procura onde poisar...alimenta-se de Utopia que o faz feliz e em qualquer lado, no céu ou no mar,há-de encontrar o seu caminho...em algum dia!!
ResponderEliminarBeijo e bom Domingo!
Graça
"O cavalo agita-se, feroz. Já foi rio, agora é foz".
ResponderEliminarExcelente verso, pois a utopia é sem dúvida o bafo quente que aquece o coração!
Bjs. e obrigado pela visita Susana. Quanto aos prémios, como tu dizes, sempre nos reconfortam e dão alento, mas no fim apenas sobrará o inexorável esquecimento.
joão rasteiro
Mais do que a sereia.. encontrei poesia...
ResponderEliminarSUSANA: texto narrativo, de uma poesia tocante!A imagem do cavalo alado, que percorre magmas da TERRa, levando a nossa imaginação e esperando pela realização dos nossos sonhos...é maravilhosa!
ResponderEliminarSe reparares, filha, todos os dias montamos nas suas costas...
MAMI
Confesso que cheguei em lágrimas.
ResponderEliminarTão forte e brando ao mesmo tempo...
E a canção... Ah! De derreter o coração.
Menina, que saudades de ti!!!
espero que tudo esteja a te correr bem...
Um grande beijinho
Cheguei...não num cavalo alado mas...talvez, numa réstea de saudade saber de ti e desejar-te um santo e feliz Natal e um Ano Novo em que todos s teus sonhos se realizem... e sem utopias!
ResponderEliminarBeijocas
Graça
Susana, sei que o tempo deve ser-te muito escasso, porém recebi três selinhos que desta vez dediquei em especial a duas pessoas - ao meu amor e a você.
ResponderEliminarPois quando tiver tempo passe e pegue-os se sentir vontade.
Um grande abraço a ti e a todos aqueles que teu coração abriga...
Malu
Olá Susana
ResponderEliminarUm belo texto, profundo!
Abraço muito grande e obrigado por compartilhar connosco
Vim deixar meus votos de um grande NATAL e um NOVO ANO cheio de PAZ e HARMONIA a ti e a todos aqueles que teu coração habita.
ResponderEliminarBOAS FESTAS!
Sempre o melhor pra ti, amiga, neste e em todos os anos que sempre virão...
Amiga excelente texto.
ResponderEliminarAproveito para desejar a si e a toda a sua família e amigos, um Feliz Natal, repleto de alegria, saúde, paz e amor.
“A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.” (desconhecido)
Que a Luz e o Espírito de Amor do Natal, consigam prevalecer nos nossos corações ao longo de todos os dias do ano que está a chegar, para seja sempre Natal.
Beijinhos
Maria e familia
Olá
ResponderEliminarDesta vez é só para te desejar um Santo e Feliz Natal!
Passo para deixar os votos interiores de um Natal com Paz, independentemente da concepção que se tenha dele. Vamo-nos veno noutros lados, mas nao podia deixar de prestar homenagem (também) em local devido :)
ResponderEliminarUm beijinho de amizade sentida, Susana
Daniel Lobinho
Bom Natal!
ResponderEliminarLindo,lindo... emocionante.
ResponderEliminarBeijos
Menina, cadê você???
ResponderEliminarQue saudades das sensibilidades deste espaço!
Um enorme e forte abraço, Susaninha
Cara amiga
ResponderEliminarTemos o prazer de convidar-te para comemorar connosco, a partir de hoje e durante três dias, o aniversário do nosso blog.
A festa ocorrerá no nosso Farol.
Contamos com a tua presença.
Um grande abraço
Argos, Tétis e Poseidón
P.S. Como prova do carinho, apoio e amizade que sempre recebemos de ti, gostaríamos que aceitasses e levasses para o teu blog o selo comemorativo do 2º aniversário do nosso “Um Farol Chamado Amizade”.
agHORA são
ResponderEliminar3.33.3" da tARDE
***
Há 4 anos...
***
urge:
afoguear
entrar em vertigens do ser e do não-ser
precipitar
repelir medos
fecundar a bela natureza
chegar ao sublime
Saber a sal
anoitecer
prender e libertar
semear
agrilhoar e desamarrar
escreVIVER perdidamente
reduzir ao ínfimo
clamar
sugar universos
colapsar fantasticamente
enegrecer e clarear
ir ao não-lugar
marejar
marear
mergulhar
encontrar sereias
cantar
delirar
perder em realidades
alucinar
fazer nada e fazer do nada
silenciar violentamente
derreter
voar
escreVIVER nas palmas da mão
soltar braços
prender asas
cavalgar
ser rio e ser baía-foz
desaguar
aprofundar
utopiar
dormir
(e
é claro que urge:)
gritar
berrar pelo talismã
Ham-saaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
3.44.3"
(aquel'abRReijinhoooooooo)