segunda-feira, 22 de janeiro de 2018



o teu sonho será a pele
que vestiu o rosto
da neve, nos dias brancos

da minha existência.


o teu sonho será a neve
que me vestiu a pele 
do rosto nos dias-todos os dias-
da ausência.

vestiria a nudez do olhar 
sob as escamas 
de um peixe nacarado.
procuro-te. o sonho
onde habitas é, ainda.

a ilha desconhecida 
do silêncio.

Susana Duarte

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018



faltas-me.







na insubmissa saudade que me traz névoas, 




falta-me o ângulo solar do teu sorriso. 


habituei-me à ausência dos lábios, 


nunca me habituando à ausência 


do que pressinto. faltas-me. 












é longa a lisura dos braços que me acolhem 


saudades mansas, despidas da bruma antiga, 


onde habitas todos os recantos breves 


das palavras que dissemos. 







faltas-me no ar que me respira e vive. 







faltas-me, sobretudo, onde a noite 


se faz longa estrada percorrida 


pela cadência agreste das silvas 


que entoam cantos de coruja, nos locais 


onde a lua interpela os amantes. 








faltas-me nas ondas do cabelo, 


que dantes revolvias com dedos seguros. 








faltas-me onde me sabes, e sabes-me 


onde o mundo se oculta de mim e eu, 


dele me escondo. faltas-me. 








na insubmissa saudade dos mares 


outrora atravessadosde carícias, falta-me 


o ângulo solar dos teus dedos. habituei-me 


à ausência dos beijos, nunca me habituando 


à ausência do que pressinto e sei. faltas-me. 







todos os dias. 










Susana Duarte

domingo, 7 de janeiro de 2018


escrevo-te onde as mãos não chegam, 
onde os cabelos não dormem,
e as coisas do mundo
permanecem
ignotas.

aí, onde moram os fragmentos da paixão,
deixei, inertes, os olhos, escuros-
-adormecidos-povoados
de luz azul
e sonhos.

mortas as luzes sobre o peito,
aconcheguei nele o sol
dos poemas
de antes.

escrevo-te, ainda, onde a morte das palavras
é o recanto esquecido da dor, 
e os olhos amortecem
a força das ondas
e o mar
todo.

escrevo-te, apenas, porque preciso de varrer
as folhas caídas no chão, aquelas
que deixaste, amarelas,
sobre as pedras
e o ventre.

escrevo-te, por fim,
para amainar
o vento.

Susana Duarte

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...