vou sentar-me sobre as costas
dos teus olhos,
e ver-me através deles, sedentos
das névoas
das minhas madrugadas.
vou sentar-me sobre
os teus braços e, através deles,
rever encostas
onde os seios te abraçaram,
e foram eternas
as inermes mãos sobre o dorso.
vou sentar-me
sobre as dobras da tua voz,
onde o silêncio
me chama e a língua me conquista.
sobre ela,
desfazer as névoas que, junto ao rio,
pairaram, no instante do atrevimento.
a língua de fogo
dos teus dedos, sobre a língua de fogo
da água que sobre ti se deita,
exclamando
todas as noites
de todas as idades,
desfiguradas pelo silêncio
que, sob a chuva, se abateu, pronto
que estava o sorriso dos lábios,
pronta a boca
para, sobre ti,
pairar e, ali,
depositar o dia.
Susana Duarte
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