domingo, 31 de janeiro de 2021

digo-te adeus

 





digo-te adeus

antes que a estrada 

           desuna os braços


e me obscureça 

            os latidos,           os gritos      e os vôos.


digo o que sei:

não existe mais do que a voz 

        com que calo           o que pressinto.


a estrada lenta das árvores

onde o sabor do absinto            me desnudou,

será a mesma                           que te abraçará


no regresso ao norte.       


as mãos que levaste       contigo,         aladas

e inseguras,            etéreas,

                 sobrevoadas pelas linhas do sangue,


dir-te-ão da impossibilidade 

                     e da ausência.        digo-te adeus,


      onde os cruzamentos  das palavras 

                  não permitem a voz 

                  ou o balanço suave


         das águas inertes sobre os corpos.


Susana Duarte



sábado, 2 de janeiro de 2021





 roubo à chuva

o sol que me pertence:

a clandestinidade da rua

permanece indistinta,


à sombra das palavras 

negadas,


interditas,


ditas onde os terrenos

aguardam a chegada

do beijo.


roubo ao sol o calor

do vôo, onde aves soletram

manhãs de inverno


e separam as letras 

de cada rumo ao sul.


roubo, enfim, o nome

decalcado na terra,

onde sou norte e sou sul


e não sei para onde vou.


Susana Duarte

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...