quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 Caminhos

(ouvindo Laura Fygi, “Les feuilles mortes”)


da raiz à pedra, constrói-se um caminho,          semelhante ao percurso entre as mãos e o peito,

entre as folhas dos dedos e as grutas da boca,                                     e entre os desejos e o corpo.


os caminhos do desejo são construídos nas mãos,     e nos olhos,     e no cruzamento das peles.


entre mim e ti, a presença etérea da volatilidade das palavras.          escreveste-as onde não sei,

e acedes a elas através de memórias que não partilho.            o caminho é o do inevitável adeus

às lágrimas sussurradas nas noites vãs.   o caminho é o das névoas azuis dos sorrisos roubados,

entre as raízes dos jardins das mãos,                                      e as noites sublinhadas pela viagem. 


somos mónadas, e o caminho da evolução das folhas.


Susana Duarte

do livro Pangeia, não publicado


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