falta a voz
e o sonho.
sobra a melancolia
e o arder
da noite.
Susana Duarte
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
dispo o corpo das palavras
e sigo o caminho da pele:
pele, poema, poema-pele onde
as ondas se abatem sobre o algaço.
sereno as asas onde os vôos
(onde?) não bastam para aquietar a sede
dispersa pelos anos perdidos,
oblíquos, obtusos,
situados onde não me reconheço
pele de ser pele, palavra de ser pessoa,
ou viagem, ou norte.
Susana Duarte
perdi o corpo
onde as ondas apagaram as palavras
ou, talvez, onde os ossos rarefeitos
iluminaram os dias de ontem.
Susana Duarte
metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso dos meus pensamentos. metade de...