é preciso dizer "amor"
sorvendo a vida de todas as letras.
é preciso afirmar o amor
nos cílios,
nas pregas de pele dos cotovelos
ou nos recantos escondidos das axilas
vivas
quando as mãos tocam piano,
tocam os ombros, as espáduas e o ventre.
é preciso dizer "amo-te"
às dúvidas e às expansões que as perguntas
geram, como se gerassem um filho
no ventre inquieto.
é preciso afirmar a voz sobre a pele,
a pele sobre a pele,
a pele sobre os olhos
e os olhos sobre a boca,
dedilhando letras
como quem sopra vida
na mente irrequieta do corpo amante.
[é na boca que calamos toda a angústia]
Susana Duarte