sexta-feira, 27 de setembro de 2024

 é preciso dizer "amor"

sorvendo a vida de todas as letras.


é preciso afirmar o amor 

nos cílios,

nas pregas de pele dos cotovelos

ou nos recantos escondidos das axilas


vivas 


quando as mãos tocam piano,

tocam os ombros, as espáduas e o ventre.


é preciso dizer "amo-te"

às dúvidas e às expansões que as perguntas 

geram, como se gerassem um filho


no ventre inquieto. 


é preciso afirmar a voz sobre a pele,

a pele sobre a pele,

a pele sobre os olhos 

e os olhos sobre a boca,


dedilhando letras

como quem sopra vida 


na mente irrequieta do corpo amante.


[é na boca que calamos toda a angústia]


Susana Duarte


terça-feira, 24 de setembro de 2024

 trago o silêncio nas veias,

como uma veste antiga


sobre o lado do avesso 

dos ossos.


visto-o,  tão sagrado 

como outra veste qualquer,

como outro corpo qualquer.


espelho os lugares

onde o sangue se demora


e pergunto quem sou.


Susana Duarte

domingo, 22 de setembro de 2024

 sabes onde vivem as aves 

da tua paixão, meu amor,

ou as asas de vigilante da natureza 

com que construíste caminhos

impolutos, verdejantes 


e definidos


como as veias que latejam

ao ritmo do meu peito,

e nele se escondem 


(ou navegam)


nas noites claras em que escreves

palavras ornadas de levante

na minha pele.


é nela que descansas,

e é dela que te ergues célere 

sobre as horas tardias das preocupações,


erguendo sóis 

nos nossos sorrisos cansados

e nas mãos dadas da nossa indefinível 


paixão. 


tens em ti todas as luas

que nos acalentam, todas as ruas

percorridas pelos passos resolutos


de um futuro 

que se inscreve em cada braço 


(tão alado como as aves 

    que te voam nos olhos quando, sereno,

            me devolves o beijo)


Susana Duarte




 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...