nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
domingo, 20 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
A aldeia III
A minha aldeia ficou ali,
pendurada numa ilha,
numa flor de laranjeira
...e no barulho do caminho.
A minha aldeia ficou ali,
suspensa do tempo e da vontade
numa azáfama perfumada
...e no som dos animais.
A minha aldeia ficou ali,
algures, num espaço que não sei
e na memória que alcanço.
Subo as escadas da capela
...e as mulheres, de negro...
estão ali, paradas, suspensas
onde o tempo as deixou,
na minha aldeia, que ficou ali,
nos seus lenços negros
que lhes cobrem as cabeças.
Num tempo findo
de juventude que (ainda) não acabou.
A minha aldeia ficou ali,
e as flores, no caminho,
revelam a procissão
onde todos comungam da fé,
do calor, da alma e do pão.
A minha aldeia ficou ali,
no som dos meus passos de criança
(que corre as ruas num sopro de vento,
onde as aves fazem ninho)...
e o tempo...não tinha fim.
A minha aldeia ficou ali,
onde velhas fotos amarelecidas
retêm o tempo numa visão diáfana
de um amanhecer desigual
(cada pedra da casa encerra
um recanto de mim, onde a aldeia ficou
num tempo suspenso
aquietado pelas memórias,
onde as mulheres de lenço negro
vão na procissão
e, lentamente, me transportam para onde estou).
Susana Duarte
pendurada numa ilha,
numa flor de laranjeira
...e no barulho do caminho.
A minha aldeia ficou ali,
suspensa do tempo e da vontade
numa azáfama perfumada
...e no som dos animais.
A minha aldeia ficou ali,
algures, num espaço que não sei
e na memória que alcanço.
Subo as escadas da capela
...e as mulheres, de negro...
estão ali, paradas, suspensas
onde o tempo as deixou,
na minha aldeia, que ficou ali,
nos seus lenços negros
que lhes cobrem as cabeças.
Num tempo findo
de juventude que (ainda) não acabou.
A minha aldeia ficou ali,
e as flores, no caminho,
revelam a procissão
onde todos comungam da fé,
do calor, da alma e do pão.
A minha aldeia ficou ali,
no som dos meus passos de criança
(que corre as ruas num sopro de vento,
onde as aves fazem ninho)...
e o tempo...não tinha fim.
A minha aldeia ficou ali,
onde velhas fotos amarelecidas
retêm o tempo numa visão diáfana
de um amanhecer desigual
(cada pedra da casa encerra
um recanto de mim, onde a aldeia ficou
num tempo suspenso
aquietado pelas memórias,
onde as mulheres de lenço negro
vão na procissão
e, lentamente, me transportam para onde estou).
Susana Duarte
Poema de José Jorge Letria
Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
[pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.
Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.
Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.
Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
[pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"
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