quarta-feira, 2 de junho de 2010

A aldeia III

A minha aldeia ficou ali,

pendurada numa ilha,
numa flor de laranjeira

...e no barulho do caminho.

A minha aldeia ficou ali,

suspensa do tempo e da vontade
numa azáfama perfumada

...e no som dos animais.

A minha aldeia ficou ali,

algures, num espaço que não sei
e na memória que alcanço.

Subo as escadas da capela
...e as mulheres, de negro...
estão ali, paradas, suspensas
onde o tempo as deixou,
na minha aldeia, que ficou ali,
nos seus lenços negros
que lhes cobrem as cabeças.
Num tempo findo
de juventude que (ainda) não acabou.

A minha aldeia ficou ali,
e as flores, no caminho,
revelam a procissão
onde todos comungam da fé,
do calor, da alma e do pão.

A minha aldeia ficou ali,
no som dos meus passos de criança
(que corre as ruas num sopro de vento,
onde as aves fazem ninho)...
e o tempo...não tinha fim.

A minha aldeia ficou ali,
onde velhas fotos amarelecidas
retêm o tempo numa visão diáfana
de um amanhecer desigual
(cada pedra da casa encerra
um recanto de mim, onde a aldeia ficou
num tempo suspenso
aquietado pelas memórias,
onde as mulheres de lenço negro
vão na procissão
e, lentamente, me transportam para onde estou
).

Susana Duarte

9 comentários:

  1. Memórias de infância... que nos trouxe onde estamos hoje... plena de elementos que nos construíram... constroem.

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  2. Beeem... Susana... Nao é que te retire qualquer valor poético, mas este poema belíssimo está deslumbrante. Li-o avidamente e quando cheguei ao fim e vi o teu nome... Belíssimo, amiga, uma infância de estar/ser, uma imagem de outrora que transporta ao presente, uma recordação poetica, quase nostálgica, outrotanto presente e a dar sentido. Bravo!

    Beijinho sempree amigo

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  3. São estas memórias...os alicerces do nosso Presente de...hoje! Os alicerces da casa construída ainda na aurora do dia...com esforço...dormem nela a quietude dos sonhos... e quando a noite desce...as memórias arrumam-se e passam diante de nós como um filme...
    Beijo
    Graça

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  4. Brilhante como sempre, Susana!
    Através do seu poema, percebe-se que teve uma infância muito feliz.

    Beijos, querida!

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  5. olá

    Gostei muito do poema, parabens!

    Abraço

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  6. Amiga lindíssima poesia.
    Querida amiga excelente como sempre.

    "A poesia é a arte de materializar sombras e de dar existência ao nada." (Edmund Burke)

    Aproveito para desejar um excelente fim-de-semana.
    Bjs do tamanho do infinito
    Maria

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  7. Bonito! Muiot bonitas estas tuas memórias Susana. E esta música dá uma tonalidade ainda um tanto mais nostálgica, mas poética...a esta tua página. Gostei.Beijinhos
    Alexandre

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  8. Olá, esta mensagem pouco tem a ver com o teu poema... mas sim outra coisa, reconheço(já à muito tempo reconheci) a foto que tens no banner e dei por mim algumas vezes a pensar será que já nos cruzamos?... Esta cidade não é assim tão grande, será que já falamos? Engraçado, estaciono o carro muitas vezes perto deste belo espaço e dou por mim a lembrar-me de alguém que não conheço mas que possivelmente já cruzei.

    Beijo

    p.s.- desculpa o à parte
    Andreia

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  9. Quando chego por mero acaso e me deparo com versos simples e diferentes, normalmente volto,foi o caso.
    vale sempre a pena reviver o passado, nem que seja para não esquercer as nossas raizes.
    no entanto é no foturo que temos que pensar,sem deixar de contemplar o presente.

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