nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
escrevia-te onde as mãos não chegam,
onde os cabelos não dormem,
e as coisas do mundo
permaneciam
ignotas.
aí, onde moram os fragmentos da paixão,
deixava, inertes, os olhos, escuros-
-adormecidos-povoados
de luz azul
e sonhos.
mortas as luzes sobre o peito,
aconcheguei nele o sol
dos poemas
de antes.
escrevo-te, ainda, onde a morte das palavras
é o recanto esquecido da dor,
e os olhos amortecem
a força das ondas
e o mar
todo.
escrevo-te, apenas, porque preciso de varrer
as folhas caídas no chão, aquelas
que deixaste, amarelas,
sobre as pedras
e o ventre.
escrevo-te, por fim,
para amainar
o vento.
Susana Duarte
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