terça-feira, 13 de fevereiro de 2018




há um poema por escrever
sobre as pernas da noite; é
o poema navegado pelas mãos
desconhecidas da madrugada,
ímpares nos pormenores estriados
por onde se espraiam os olhos.


o poema por escrever permanece
nos recantos esquecidos da pele,
e recai, como a água dos olhos,

onde as pernas da noite amanhecem,
como os gatos nas balaustradas,
e as mulheres ensonadas 

que escrevem destinos.

sobre as pernas da noite.

Susana Duarte

domingo, 4 de fevereiro de 2018



e tu,
vais-te embora? vais-te embora?...

não,
não te vais embora: fico contigo…


deixas-me nas mãos a tua alma,
como um casaco.



marguerite yourcenar
fogos
trad. de maria da graça morais sarmento
difel
1995

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018



"A alma, ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia tomar cor. Há seres cuja alma é uma contínua exalação: arrastam-na como um cometa ao oiro esparralhado da cauda - imensa, dorida, frenética. Há-os cuja alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus."

Raúl Brandão, "Húmus"


 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...