terça-feira, 5 de março de 2019


sobrevoas as noites, onde as flores 
são os ângulos escondidos das veias. 
apareces, como um fantasma: povoas sonhos
 e roubas segredos.

sobrevoas os dedos, onde as noites são raras. 
partes, todas as noites, mas pairas sempre 
sobre os passos através dos quais 
perscruto os caminhos.


caminhas sobre os meus passos e, todavia, 
não estás. matas-me e, todavia, regressas, 
como um espectro que desalinha as flores 
e insemina de ausência 
os dias.


perdido, tu próprio, nas linhas oblíquas da chuva, 
congeminas olhares onde os teus olhos já não estão.


desaparecerás, um dia, dos caminhos

dos sonhos e dos beijos por dar. nesse dia, a luz-outra 
será o véu através do qual deixarei de te ver, 
 qual névoa de Setembro, 
qual gota de chuva caída dos beirais de uma casa, 
eclodindo na calçada para, depois- e para sempre- 
se ocultar das pedras.


desapareces já, noite após noite, onde os sonhos 
não te nomeiam e os dedos não te procuram.
 talvez sejas já, apenas, a sombra dos dias de ontem. 
o teu nome não me cerca.


os teus olhos desaparecem com as chuvas. 
a vida, um dia, recomeçará: fantasma, presença, ausência 
de todas as ausências 
dos meus braços.


nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras.




Susana Duarte

2014

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