antevi as mágoas, por entre as palavras:
o vôo raso das aves entreteceu os dias
sobre a pele gasta. antevi as névoas
entre os momentos sombrios da tua boca.
não antecipei, todavia, a partida,
a morte lenta das frases, o poema
quebrado na raíz das árvores,
as areias dispersas da tua vontade,
ou o rumo sem rumo dos corpos;
a vontade etérea da tua boca, a palavra
dispersa do pensamento, e a vaga
sombra que terminava o teu sorriso.
o vôo raso das aves espalhou a sombra
breve sobre os meus braços, e a vaga
que daí nasceu sobressaltou-me
as pernas, emprisionou-me os braços,
deteve-me as palavras. assisto, sombria,
ao que dizes. estranho-te o vôo. nada
sei de quem foste. de quem és. de quem
terias sido, caso o vôo fosse aberto,
levado por vagas de ar, por ondas
ou por totens localizados no peito.
Susana Duarte
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