segunda-feira, 12 de agosto de 2019



antevi as mágoas, por entre as palavras:

o vôo raso das aves entreteceu os dias

sobre a pele gasta. antevi as névoas

entre os momentos sombrios da tua boca.




não antecipei, todavia, a partida, 

a morte lenta das frases, o poema 

quebrado na raíz das árvores, 

as areias dispersas da tua vontade,

ou o rumo sem rumo dos corpos;

a vontade etérea da tua boca, a palavra

dispersa do pensamento, e a vaga 

sombra que terminava o teu sorriso.




o vôo raso das aves espalhou a sombra

breve sobre os meus braços, e a vaga

que daí nasceu sobressaltou-me 

as pernas, emprisionou-me os braços,

deteve-me as palavras. assisto, sombria,

ao que dizes. estranho-te o vôo. nada 

sei de quem foste. de quem és. de quem

terias sido, caso o vôo fosse aberto, 

levado por vagas de ar, por ondas

ou por totens localizados no peito.




Susana Duarte


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