segunda-feira, 25 de novembro de 2019

um dia, esquecer-te-ás do meu nome:
lembrar-te-ás que nos conhecemos
no lado solar de uma estação de comboios,
 por entre passos soletrando a solidão. clamarás o nome antigo das horas passadas
no silêncio dos corpos, e serás triste
como os olhos que deixaste.

um dia, esquecer-te-ás de que fomos
um, tropeçando nos dedos como quem ri,
e nos corpos como quem tem fome 
e sede e desespero, ou a impressão 
digital de lutas antigas; ainda te lembrarás
das palavras, mas nada terá o sal e o sangue 
e o fogo dos dias tornados perenes 
num seio frio.

partiste e, como quem parte,
deixarás para sempre os lábios de outrora,
interditos como as auroras que viste
nascer; serás sombra, e pó, e o piar das aves
sem sonhos, ou um vôo sem plúmulas.

serás, enfim, a sombra do sonho e o uivo
negros dos olhos-os meus- que fechaste
numa tarde inícua, naquelas linhas escritas
a ferro, onde as lágrimas não bastaram. 

Susana Duarte

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