cabem todas as vozes
no peito ávido dos olhares
trilhados pelos caminhos longínquos
e pelas ondas.
cabem todas as mágoas
nos olhares das aves, e todas as aves
nos olhares das mulheres.
no desassossego do voo,
existes tu, folha caída de uma árvore
sem raízes. existes onde as águas
desassossegam o mar líquido
do ventre, e as folhas
perenes agitam
as sombras.
não existe nada, para além das aves,
e das ondas, e das sombras...
talvez existam as memórias,
as folhas caídas e
o que fomos ontem:. um homem,
e uma mulher - atraídos pelo vôo
das palavras que, por serem ditas,
soavam a eternidade.
Susana Duarte
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
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