a aldeia permanece-
muda como dantes,
e como dantes, cheia de vida
nas sombras verdes das ruas
antigas. são empedradas e duras,
como as rugas antigas das vidas
que conheci, quando as luas por viver
eram suaves e tantas.
a aldeia suaviza as memórias,
antecedendo as perdas
e guardando, nas pedras, os diálogos
das caminhadas,
e das dores,
e da lembrança dos baloiços
no adro da igreja.
são antigos, os meus pés,
como os salgueiros e as ruínas
outrora vivas, outrora albergue de risos
e de misérias, ambos parte dos sons
com que se viviam as Páscoas
madrugadoras,
os risos das crianças,
o compasso dos milagres
e a idade que não parecia existir.
talvez, afinal, eu saiba
de onde sou. sou das ruas
e das ameixoeiras,
da casa antiga e da fonte,
dos cântaros e dos sabugueiros,
dos jarros em flor e da terra,
talvez tão finita como a aldeia,
e tão infinita como ela.
Susana Duarte
2/03/21
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