sexta-feira, 2 de abril de 2021

A aldeia

 a aldeia permanece-

      muda como dantes,

      e como dantes, cheia de vida

                  nas sombras verdes das ruas


antigas. são empedradas e duras,

      como as rugas antigas das vidas 

              que conheci, quando as luas por viver 


eram suaves e tantas.


a aldeia suaviza as memórias,

             antecedendo as perdas

        e guardando, nas pedras, os diálogos


das caminhadas, 

            e das dores,

                e da lembrança dos baloiços

                         no adro da igreja.


são antigos, os meus pés,

    como os salgueiros e as ruínas

outrora vivas, outrora albergue de risos


e de misérias, ambos parte dos sons

    com que se viviam as Páscoas


madrugadoras,

     os risos das crianças,

           o compasso dos milagres 


e a idade que não parecia existir.


talvez, afinal, eu saiba

   de onde sou. sou das ruas 

                    e das ameixoeiras,


da casa antiga e da fonte,

      dos cântaros e dos sabugueiros,

             dos jarros  em flor e da terra,


talvez tão finita como a aldeia,

                   e tão infinita como ela.


Susana Duarte

2/03/21


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