sábado, 5 de setembro de 2009

Sophia


Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida

Nunca mais servirei senhor que possa morrer
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu sentir. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz, e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen

11 comentários:

  1. Um grande poema, de uma grande poetisa.
    Lembro-me de ler esta senhora desde os livros da escola primaria.
    Este poema é particularmente triste, o que não lhe tira a beleza. Boa escolha. Obrigado pela partilha. Fizeste-me "viajar" um pouco :-) Parabéns pela musica de fundo. Divinal.
    Beijos e bom descanso
    Francisco

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  2. nossa forte este texto em, mais bonita a obra, enigmatica a foto gostei!

    abraços!

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  3. Nuncamais servirei senhor que possa morrer-
    A "grande" Sophia, uma escolha cheia de ternura, diferente, suave e, ao mesmo tempo. cheia de personalidade. Gosto deste poema, tem tantas interpretações, até mesmo políticas, ainda que velada. É a mulher que diz tudo, na sua suavidade.
    Um beijo grande e um bom fim de semana nessa "Terra de Encanto". Graça

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  4. Olá, Susana!
    Passei para deixar-te abraços e dizer que amo a intensidade poética de Sophia de Mello Breyner Andressen.
    Tenho dois livros dela " O Rapaz de Bronze" e " O Búzio de Cós e Outros Poemas", presentes de um senhor portuguès - Erasmos Chaves, que mora aqui no Brasil, agora e sabe que amo livros de lieratura infantil.
    O mercado de literatura no Brasil não é muito lucrativo então conseguir bons livros fora os grandes best-sellers é complicado. Aprendi a garimpar excelentes pérolas em sebos o que é muito divertido.
    Belo poema!
    Beijinhossssssssss

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  5. terra de encanto:lindo poema de SOPHIA DE MELLO BREYNER. É um poema de amor e morte.Chama-se "MEDITAÇÃO do DUQUE de GÂNDIA sobre a Morte DE ISABEL DE PORTUGAL". O duque ,chocado com o retrato da morte é uma METÁFORA de todos nÓS quando a observamos ,na face de um ente querido.
    O Duque de Gãndia ,casado com D.Leonor de Castro, apaixonou-se pela bela imperatriz de Portugal, D.Isabel, que faleceu um ano depois de sua esposa. Então, chocado com o fausto do mundo, tornou-se monge da COMPANHIA DE JESUS.
    Daí, o constante "nunca mais..."Este poema de SOPHIA é , ainda, um preito de homenagem às CANTIGAS DE AMOR medievais, pois , além do tema de morrer de AMOR por sua "Dona", ele acaba com um verso , a que se dá o nome de FINDA.
    BEIJO DE LUSIBERO

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  6. Francisco,
    obrigada! O poema é, realmente, significativo. Obrigada pela apreciação da música.
    Beijinhos

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  7. Fabiano,
    descobri esta foto num e-mail que recebi, e uso-a muitas vezes!

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  8. Olá Graça,
    é a pessoa face à morte, não é?
    Obrigada por vires sempre.
    Beijos

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  9. Malu,
    hei-de colocar aqui mais poemas para tu, em especial, os poderes ler. E dizer-te que sei o quanto é divertido encontrar bons livros nos sítios mais improváveis...
    Um grande beijo

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  10. Lusibero,
    excelente este enriquecimento ao poema. Confesso que não sabia...beijinhos

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  11. Grande poema desta Sophia que sempre me encantou.

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