sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Nuno Júdice, de novo..

Voltando à poesia de Nuno Júdice...porque é bela, sensível, tocante...
...ou apenas porque sim!


Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

5 comentários:

  1. Saudades de ti, Susana!
    Eu estou nesta fase - de deixar que o copo se encha até a boca, para só depois levantar o brinde.
    Corro o risco do copo nunca se encher, mas todos correm.
    Obrigada por partilhar profundas palavras que apesar de um poeta e, não tuas, sairam também, do teu coração.
    Enorme abraço em ti

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  2. Belíssimo! É de facto bela, sensível, tocante e, tudo o mais que nos despertas os sentidos e sentires.
    Creio que todos corremos o risco do copo nunca se encher, mas também depende um pouco de nós e do "outro", se nada fizermos para encher o copo, nunca o poderemos levantar, ver "o teu rosto inteiro" e, brindar ao amor.

    Obrigada por esta partilha.

    Abraço

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  3. Gosto desta parte em particular sem me importar em psicanalisar muito do sentimento da vida e por isso ficando apenas com isto:

    "Pergunto onde está a transparência do
    vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
    de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
    são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
    da alma suja de restos, palavras espalhadas
    num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
    hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
    esperando que o tempo encha o copo até cima,"

    Realismo na constatação de uma verdade, mas Esperança, no apontar de uma solução.

    Bonito.

    beijinhos amigos

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  4. Susanita, belo texto :)
    Mesmo repleto de metáforas, este texto diz-nos tanto, tanto, que é impossível ficar indiferente.
    Espero que esteja tudo bem com as duas pataniscas!
    DESEJO-VOS UM MARAVILHOSO FIM DE SEMANA.
    Beijos
    Norberto

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  5. Que bom encontrar quem aprecie as mesmas belas palavras, que as sente fundo no peito e revela a mensagem que nelas se esconde...
    Obrigada por estarem sempre aí.
    Susana

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