domingo, 29 de julho de 2012

Distância

a distância
na pele do poema

... subjugada ao egoísmo de desejar
e à eterna demanda da paixão

condensada

em rios de palavras

onde a vida se preenche de nós

susana duarte
descanso
sob as asas ocultas
nos seios

dos teus braços;
... sob o sol poente
da noite

do meu ventre;
sob as águas da tua boca
e da corporalidade
do teu ser.
descanso
sobre as ondas

descalças

dos poemas
que jazem nas linhas
das axilas,
onde encosto as linhas
do rosto antigo,
e me permito sonhar

cálidas
rubras
manhãs
em que acordo em ti.

susana duarte



domingo, 22 de julho de 2012

Círculos


desenhei-te com círculos de ar, no ar que me respira
e nas sombras por onde me movo. rezei peitos
... de noites serenas, esperando pela palavra
que, dita por ti, assumiria a dimensão
da vida.
iludida?
diria, antes,
encantada, nas asas da suave contradição
de ser mulher, e de ser arado que te lavra
as dores gramíneas do peito, de onde tiro as dores
que, saídas de ti, são o terreno onde se afogam medos.


desenhei-te com círculos no espaço da minha gratidão.


disse-te que seria sempre a asa levantada do chão,
onde a suave ditadura das tuas mãos me devolve
o ar. são de eternidade anterior, os teus beijos.
neles me deito. neles me concentro. neles
encontro todos os círculos
que tenho dentro.
neles, sou
a sombra da tua boca.
círculos da minha vontade.
círculos redondos das minhas coxas.
não saio de ti. concentro, nos círculos, os desejos.

nos desejos, sou-vivo-encontro-respiro-me, eterna em TI.


susana duarte


sábado, 21 de julho de 2012

Distância

a distância
na pele do poema

... subjugada ao egoísmo de desejar
e à eterna demanda da paixão

condensada

em rios de palavras

onde a vida se preenche de nós

susana duarte
ESPECTRO

torno-me irreal, no momento
em que a noite,
sobre mim, tece rendas de água
... e encantos estagnados no marasmo
das coisas e na paragem dos rios
e das romarias de lágrimas
no outeiro dos olhos, quebrados
pela visão quimérica da noite


torno-me irreal, quando a noite
sobre mim caminha,
tessitura de voos e de uivos,
gemidos-bramidos-sons surdos
do bater sonoro do ritmo da vida
e da alegria dos dias ousados,
ousados de rir,ousados de serem mudos

ouso

amar


no preciso instante
em que a irrealidade
das teias me quebra o ar
e me nega a vida e me tira os sons
das palavras
do peito


ossos

gelo rarefeito das noites



susana duarte




 

terça-feira, 10 de julho de 2012

inscrevo-te na bainha dos sentidos,
onde o limbo é, apenas, um caminho


salto de folha em folha e, na natureza viva das mãos,
... abro a boca sôfrega da água que sai do teu corpo

ondeio as linhas do caule e
nutro-me da tua vida:

semente,
nascente,
flor noturna
e pêssego rosa;
luz nascente
das minhas flores,
ângulo inexistente de uma curva,
quarto crescente
da minha lua.


inscrevo-te no recanto ambíguo dos sonhos,
na espera do sol nascente, rasante das minhas veias,
amplitude da navegação das flores, na enseada
onde verti as flores de um olhar,

luz,

alcateia de lobos de uma montanha nova,
onde inscrevemos a espécie nos olhos azuis da tua boca.


inscrevo-te na bainha dos sentidos,
onde o limbo é a margem da vida, percorrida

por entre cruzamentos e ligamentos e estranhos pensamentos

mas onde, sempre, reina o teu nome
 




 susana duarte


 

domingo, 8 de julho de 2012

ASAS
 
 
nascida das nuvens, renascida em ti,
soçobro ante a visão das coisas. contigo, vivi
e soube das luzes da noite. nascida das chuvas
e das vidas vividas, renacida de ti, chão de uvas,
uvas-mosto de um setembro oculto, revivo na sombra,
... a sombra etérea das gotas de chuva e a penumbra
dos olhos, iluminados pela cor cereja de uma vela.
nela, escondem-se os segredos dos amantes,
e dos dedos, e dos momentos delirantes
de milhares de segredos, inscritos
nos poros. inscritos em ti. nascida
das nuvens, renascida em ti, escrevo
diários de fumo na sofreguidão dos dias,
e na solidão dos dias, e na solidão fria
das noites. olho-te. fico em paz.
nasci das nuvens. renasci das tuas asas.
luz da minha sombra esquecida. vivo nas casas
onde existes. e morro na luz dos teus braços.

susana duarte
 
 
 
 
 
 
Nasço em ti


nasceste-me,
desaguando olhares sobre as estrias da noite,
... onde se demoram alucinações e sonhos desiguais,

onde demoras o ventre sobre as costas e nadas,
soluçando gritos e deixando transparecer a noite
onde me nasceste.

nasceste-me,
ventre renascido de águas azuis e flores silvestres,
framboesas do meu rosto e odor frutado de corpos
floridos.

nasceste-me,
onde a noite se fez água entretecida nas margens,
olhos das areias onde passeei ondas gigantes, levantadas
da raíz e do tronco da vida,

nascendo-me
nas horas claras das luzes impressas nos dedos,
imprecisas e paradoxais como o sonho, onde movo
as mãos e me encontro

em ti.
 
susana duarte


Foto: Ivano Cetta

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...