sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FUGA

Na música do encontro, bailam as notas da melodia
que, presas no mel da noite, e tocadas na luz do dia,
se desprendem de uma gota de chuva alheada do sol,

e se tocam nos ombros da tarde onde, lesta, se move
a pressa de sonhar. ( A pressa de ter a tarde no rosto).
...

A vontade de mosto, em tarde de Setembro. O doce
suor de Maio, uma chuva de Novembro. (De onde és?)

Na uva sacarina de uma música que se sobrepõe a mim,
A fuga é o contraforte de sons abertos ao dia. (Melodia).

Notas que fogem de outras, em alegre consonância,
na alegria com que derramas a voz no toar da Canção.
Diafragma de uma debandada de aves inscrita na noite.

Apóstrofo de um diálogo. Ave solta. (Céu azul. E Evasão.)

susana duarte

terça-feira, 28 de agosto de 2012

DATA


soam palavras de amor e presença, na noite iluminada
dos teus olhos e da nossa ausência; um mar de aves
sabedoras da vida, voeja sobre os nossos olhos

de demanda e sal; de procura e água, salinos-
-hialinos-de água-vidro-pó dos desertos
onde sobrevoámos areias e maresias
...
estranhas de encantadores da vida,

vida-vivida-em teus olhos resplandecida, saber
ao sabor dos teus beijos, fonte de sabedoria
e de todos os meus desejos. ave azul das
manhãs em que sou mais, em que sou
o azul dos teus olhos e as curvas
das minhas coxas. nelas,
resides tu, saber-sabor-
sal de toda a vida

que temos dentro


-1 ano depois-
27 de agosto de 2012

 susana duarte

domingo, 26 de agosto de 2012

ARABESQUE

Vou desenhar um arabesco no cabelo de uma flor.
 

 Um bailado
de uma noite em teu olhar
e teu calor. Uma dança, uma maré
de estrelas inauguradas numa praia de algas verdes,
dançadas por ti. Dançadas por mim. Dançadas na chuva estival
de uma noite de Perseidas. Talvez seja fruto alado, a
estrela que te guia. O candeio que te alumia, e a ave
que te percorre. Em teu sangue, nada morre. Em tua
veia, de serena alegria, a dádiva da gota de
água, que o Silêncio desenha na estrada…
onde sei da Alegria, e faço o percurso,
e corro no mar, e ando
numa nuvem, e
deixo de remar,

 e sei que cheguei,
e sei onde estás, e
transformo o arabesco numa
nuvem de eternidade, desenhada numa
flor, onde vives, sem idade e sem morada, sem deserto,
sem ter nada, senão a absoluta cumplicidade de um olhar
onde uma gruta foi escavada pelo vento que eu era.

Semeei a espera que é dádiva e é dança.
Um ornato numa
esteira que é fio e contradança.
Florear a letra na imagem
onde uma bailarina rodopia, numa Coda.

Em teu nome, danço flores.
 

 Tempo.
Ampulheta.
Bailado.
Teatro de aromas…palco… cores.

  susana duarte

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

combate-se o silêncio


com as palavras escritas,
cravadas
a golpes de lapiseira
no papel imaculado


...
combate-se o silêncio

com os diálogos
travados
entre si e si,

na imaculada folha branca da alma.

só não se combate o silêncio
onde as palavras já morreram

concretas
incorporadas
definidas
alinhavadas no tempo
e no espaço


das memórias dos lugares sob

a pele.




susana duarte



terça-feira, 14 de agosto de 2012

REGRESSO


volto à noite
como, após cada noite, regressa a nós
a madrugada.

regresso ao ventre
...
e à espada, movendo-me
em ti

como se fosses vida renovada.

volto a cada desejo
partilhado sob as águas da chuva,

e volteio em cada gota,
noturna como as aves
noturnas;
madrugada de mim mesma;
flor orvalhada

semeada
sob a chuva dos teus olhos.

volto à noite,
porque volto a ti.

mais, não sei, senão regressar.

susana duarte

 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

TEMPO DESFOLHADO

______o tempo traz as flores acomodadas no peito_________

desfolha-as, no impulso firme de ser vento,

desacomoda-as de si, do caule, da voz das águias,
no movimento forte de ser vento,

e volta a deixá-las ser flores,
...
apenas por um segundo,
quando os olhos se movem ao encontro das mãos

e o tempo volta a ser tempo

e o tempo acomoda o peito

e as flores

e o vento

e os caules
de ser ave
levada nas ondas sonoras

do dia em que as mãos partiram

e deixaram as flores desfolhadas no peito
do imenso desalento

da tua ausência

_________até que o Tempo volte a ser tempo

de me desfolhares o peito______________

e de escreveres as pétalas das flores

____________________________________________em mim.

susana duarte
morde os braços,
na ausência das nuvens
onde Eros e Psyché deram as mãos.

no silêncio da altura vislumbrada,
na raiz das virtudes e de todos os embaraços,
eis a noite sonhada dos abraços
e dos corações descobertos
_________________

...
em céus encobertos
onde as nuvens
apenas
iludem.

Susana Duarte
canto as flores que te crescem nas asas, meu amor

no amor, canto as flores que te enrubescem o rosto, meu amor

em todas as línguas do mundo, canto as tuas flores

e, no ventre, escondo os sonhos e os olhares trocados
 
nas noites seculares dos nossos amores. janela.

janela na minha alma. alma entronada pelo teu rosto.
 


Susana Duarte, ouvindo Périplus de AMélia MUge e Michales Loukovikas
existe o regresso, ansiado e entrevisto,

 entre dedos e entre histórias, entre rostos e memórias,

 entre ditos, entre dentes e entre palavras dormentes,

suaves flores dos meus dedos. segredos.



 Susana Duarte
sou um rio com tantas margens desavindas
entre si. permaneço nas roupagens das algas.
nas algas, procuro os olhos das águias.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

eu-em-ti


.queria ser vôo e ser horizonte.

...
.numa praia deserta, ser a vida e a fonte
que te deixa ser asa e remo, nave e mar navegado,
fruta morena em terreno desbravado, onde se verte a lua
e navega a noite, ao som de um violoncelo-mulher-despida-de si.

.encontrar-me no horizonte onde os olhos são estrela do norte,


e sou eu-em-ti.



susana duarte

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...