Ontem fui uma luz. Hoje sou uma luz.
Uma luz serei entre as tuas espáduas e no interior
da tua boca, na tua nuca incandescente, no ombro que
a minha língua percorre, faminta e transtornada.
A tua pele é um doce delírio, um fogo em território de paixão,
percorrido à velocidade desta luz. Sobre ela correm
animais assustados, fugindo da voracidade dos meus lábios,
dos meus dentes que mordem a surpresa.
E em cada centímetro do teu corpo beijo árvores e casas
de uma cidade branca onde Deus habita, e onde esvoaça
para o céu da minha boca um coro de anjos transparentes
que exultam aleluias no meu sangue.
O meu corpo é uma pátria de desejo. A tua boca
um poema manuscrito, dito em silêncio à minha boca
que mastiga as tuas palavras de seda, e de sede.
E de incêndio.
*
Joaquim Pessoa
in ANO COMUM, 2.ª Ed.
(Introd. de Robert Simon; Posf. Teresa Sá Couto)
Editora Edições Esgotadas, 2013.
in ANO COMUM, 2.ª Ed.
(Introd. de Robert Simon; Posf. Teresa Sá Couto)
Editora Edições Esgotadas, 2013.
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