José Mariano Gago foi o cientista de que mais gostei na minha vida. Não: foi muito mais. Foi o ser humano que mais me ensinou.
Conhecemo-nos antes de ele se ter dedicado à política para defender - com um êxito tremendo - não só os cientistas como os filósofos e outros investigadores infalsificáveis.
José Mariano Gago nas ciências, tal como Adérito Sedas Nunes nos estudos socias, sacrificou-se para ajudar a comunidade inteira de investigadores.
Foi um herói. Era não só ousado como inteligentíssimo: sabia que as coisas eram difíceis. Sabia que a tradicional divisão (eternamente estúpida) entre artes, letras e filosofia, por um lado platonicamente arrogante e as ciências pragmáticas e prováveis, por outro lado aristotelicamente convincente, era não só escusada como prejudicial para os dois apenas aparentes adversários.
Chorei quando soube que José Mariano Gago tinha morrido. Não gostei nada do cabeçalho, impensado, da Visão: "Morreu o ex-ministro Mariano Gago".
Antes e depois de ser ministro (que só foi para beneficiar a comunidade científica e a - menos cientificamente - intelectual), José Mariano Gago foi um espírito livre e uma mão libertadora.
Era um inocente, um revolucionário e um génio. Como é que chegou a ser ministro? Para ajudar a ciência, a sabedoria e a asneira; o erro e a teimosia; as hipóteses sem qualquer hipótese de virem a ser teoria.
Morreu um benfeitor. Morreu uma cabeça acima de todas as nossas.
Pobres de nós.
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/viveu-mariano-gago-1692807