segunda-feira, 1 de abril de 2024

 há uma casa onde a infância foi

a ideia de um dia ser     obra imperfeita talvez

obra acabada             inconsciente dos futuros

ou dos filhos    ou dos gatos sobressaltados

e das dores paridas       em noites solitárias


na casa sobrevoada por memórias, vivem 

espectros            gestos antigos       objectos

obsoletos        almas grandiosas   ou meros 

sobreviventes aspirando o ar das ameixas e

       dos laranjais    e dos sorrisos de avós

tão antigos como as casas e os seus beirais

   chuvosos, resplandecentes e gélidos    onde

gatas antigas parem   gatos futuros  e o gelo

    da manhã pare as dores do mundo


     ou, apenas, as inomináveis: as dos vivos.


Susana Duarte



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