estilhaçam-se as palavras
[silêncio]
ante o silêncio da tua voz.
as aves continuam sós
[assim estamos]
Susana Duarte
Minha mãe, Maria Elisa Rodrigues Ribeiro. Saudade eterna do teu sorriso, da tua voz, da tua doce presença.
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
há um poema por escrever
em todos os passos que não dás.
todas as ondas são marés
ruivas de desalento,
e o poema
escrito nas veias,
inscrito na tua ausência,
nos passos solitários de todos os dias
é um poema
onde se demoram aves
e sonhos dúbios.
aparecem insectos
no meu caminho, sons inesperados
(talvez sinais)
mas o poema continua por escrever.
como ele, demoro-me
nos beirais dos dias. espero
pelas aves, pelas palavras,
pelas noites em que dormir
é o oblívio.
gatos ciciam diálogos
incompreensíveis, e caminham
sós pelas ruas de antes.
como caminho eu,
nos dias de agora, tão incongruentes
como a ausência
que me perfura
o coração aflito.
Susana Duarte
Minha mãe, Maria Elisa Ribeiro
08/02/2025-10/02/2025-10/05/2025
sei das rosas que amavas
e da delicadeza do toque,
ainda que as memórias
obnibuladas pela dor,
se ausentem de mim.
soubesse eu de ti, e dar-te-ia
as mãos e os abraços
e os sorrisos e as carícias
a que, ainda ontem, assisti
na missa sagrada: uma mãe,
mão dada com a mão da filha:
movimentos carinhosos
e as lágrimas dos meus olhos
ora acesos,
ora apagados,
tristes olhos, os meus, sem ti
triste persona, a minha, sem ti.
perdoa-me, filha,
por querer ser mãe e sentir tanta falta
da minha. nos abraços que me dás
e me completam,
incompleta que estou
sem os braços de quem me chamava
filha, oh filha, Susy, sinto -me tão só,
assim me sinto eu, a tentar a alegria
na ausência excruciante da tua voz.
Susana, tua filha.
Sinto a tua falta, mamã, Maria Elisa, Lusibero.
"se alguma vez me vires em sonhos
sacode-me a terra ao coração"
valter hugo mãe
visita-me, ora por mim,
visita o meu rosto, ora por mim, ouve
os meus gritos, ora por mim.
dá som aos meus silêncios.
(quero tanto ouvir a tua voz)
prometo estar atenta,
olhar na tua direcção
e derramar os meus olhos
sobre o teu coração
débil
outrora tão forte, presente (ora por mim)
amante das rosas
e das gotas de chuva
e dos idos
de Outubro do teu aniversário.
ora por mim, ora por nós
"Avé Maria que estais nos céus"
e deixa que a tua presença me sorria,
diluindo as névoas que passaram a habitar
-me os olhos ausentes
porque não estás aqui,
perto de mim,
onde poderia ver-te. ora por mim.
o abraço perdeu -se no silêncio
da eternidade onde esperas. ora por mim.
ouve-me. ouve o meu grito silente.
"Ave Maria, cheia de graça.". Maria. Mãe.
ora por mim. ora por nós.
Susana Duarte
Para ti, minha mãe, Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
o tempo desfolhou as flores
que, outrora, trazia no peito.
desfolhou-as
num instante, quando os olhos
se moveram ao encontro
das mãos
e do peito
e da voz
desfalecidas num segundo,
o segundo breve de o tempo
deixar de o ser,
de a ave que em nós havia
ser levada pelas ondas sonoras
daquela madrugada em que as mãos
partiram
deixando as flores
desfolhadas
no peito do imenso desalento
da tua enorme ausência
sem que o Tempo volte a ser
tempo de escreveres pétalas das flores
em mim.
Susana Duarte com Maria Elisa Ribeiro, minha mãe ✨🤍🌌🙏
e agora, dormes. velo o teu sono (habito-o?) onde a morte te apartou de mim e o vento tudo derruba dentro do meu peito triste. só as aves ...