nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Alinegro
Há um caminho oculto sob as pedras
levantadas do chão com esporas
que, iluminadas de fogo-ar,
queimam o sol das ervas.
Sob o arco do espanto,
arco iluminado de voz e canto,
entendes os signos e os sinais
multiplicados pelos ventos do afecto.
Sob as unhas guardo a pele
que tirei aos sonhos em dia de sol
e, numa noite sem fim, amei
cantando o verso solto que sai de mim.
Escorre água sobre as pedras
que, lisas, escorregam em si sonhos
de paz. Seixos brilhantes
sob a luz que ilumina as asas.
Pedras luminosas que escorrem luz.
Luz nascente de jasmins em flor.
Flor do canto do espanto do sonho.
Sonho do caminho dos passos que dou.
Dou. Espero. Sonho. Exijo. Quero.
Quero o caminho aberto sob as pedras,
Levantadas do chão com a leveza
da estrada solta sob os meus pés.
Há azul no meu chão. Há azul no meu céu.
Há azul intenso a clarear o breu.
A noite cessa e, logo, a manhã dealba.
Talvez, hoje, o real seja meu.
(até lá, vou procurar as asas)
Susana Duarte
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Flórula
A flor é uma época bordada num desenho.
Um poema no deserto que desejo e não estranho.
Uma miragem e um oásis numa mesa onde, nua,
uma jarra pontifica um reinado de sombra
- e lua.
A flor é um poema e uma estrada por fazer.
Uma rara atmosfera que dilui o desprazer.
Uma estrela azul ornada de sonhos diurnos,
densos. Uma névoa que se dissipa
sob o toque de dedos tensos.
A flor é uma côr, um desejo, a exaustão.
Fina, frágil, breve e doce fluir de sonhos
e paixão. Uma suave melopeia - rítmica, sussurrada-
Construção harmoniosa de uma casa habitada.
A flor é um dédalo onde, caminhando,
o desabrochar é um momento. Um mapa
de linhas cruzadas no mar de um raro encantamento.
A flor é um poema floricoroado. Um avistamento,
uma fragrância. A sensação de ter chegado.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
CHEGADA
Caiu de uma nuvem: uma chuva de chá de flores de jasmim.
Flores de flores de chá, flores de flores de mim. Agitou-se uma torrente
de névoas pálidas, perfumadas de caramelo, numa nuvem de odores.
Odores de névoa. Odores de ti em mim, odores de ti em mim… odores
de suaves flores de algodão num céu branco, feito de luzes azuis, onde
a sombra se remete ao profundo inverno de um amanhecer do norte.
És feito de luz, de luz de luzes de um sonho sem fim. De sonhos de vida,
de sonhos em mim. Caiu, de uma nuvem, uma chuva de chá de flores de jasmim.
Caíste de ti, e ficaste em mim. Sonho do sonho de flor do inverno, eterna luz,
eterno azul, perpétuo movimento do teu corpo aqui. Agita-se a pele, no encontro
do sonho, presença de calor num dia criativo de fotos de Luz, de fotos de água,
de fotos de névoas, de fotos de um sol que não termina aqui… põe-se o sol no mar.
Põem-se teus braços no pescoço de cereja que se encosta ao céu. És tu, aí,
prisioneiro de um olhar feito de terra negra e flores de algodão. Flor. Ave. Coração leve.
……………………….porto de chegada……………………….
( Susana Duarte)
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
LUCERNÁRIO
Há uma cor cujo significado és tu. Uma danaide passeia
no teu rosto, abandonando o dia que foi seu.
Paira sobre nós, numa balada, entoada aqui.
Marulhada. Frágil sob a força das ondas.
Uma rocha caiu. Há um som de precipício no breu.
O crepúsculo da alma cede lugar à fantasia.
_____________________________________________
Há uma balada cantada pela noite
e uma incandescência que o luar acendeu
na rua. A voz mumurejada de uma ave nocturna
incomoda o silêncio que se entreteceu.
Passeamos lado a lado numa efabulação
diagonal ao ser. Procuramos o sonho.
_____________________________________________
Há uma alegria que habita os passos que dás.
Colhes borboletas na brisa nocturna e dás-mas na mão.
Habito um castelo longínquo onde um ser alado
almeja chegar. Fluviária. Aquática. Aérea.
Deixa-me ser assim. Cantora breve de auroras boreais.
Deixa-me sorrir à lua, ler-lhe a mensagem, entender os seus sinais.
_____________________________________________
Vermelho. Renomeia as cores. Faz brilhar o canto
das sereias que te encantam. Cria. Ágaro. Albatroz.
Vou contigo além-mar. Na noite que termina.
Nix, a deusa da noite, sua rainha, habitante do extremo oeste,
permite-nos o sonho em que o incosnciente se liberta.
O meu OFÍCIO DA NOITE é limitar-me a recriar.
SUSANA DUARTE
.
no teu rosto, abandonando o dia que foi seu.
Paira sobre nós, numa balada, entoada aqui.
Marulhada. Frágil sob a força das ondas.
Uma rocha caiu. Há um som de precipício no breu.
O crepúsculo da alma cede lugar à fantasia.
_____________________________________________
Há uma balada cantada pela noite
e uma incandescência que o luar acendeu
na rua. A voz mumurejada de uma ave nocturna
incomoda o silêncio que se entreteceu.
Passeamos lado a lado numa efabulação
diagonal ao ser. Procuramos o sonho.
_____________________________________________
Há uma alegria que habita os passos que dás.
Colhes borboletas na brisa nocturna e dás-mas na mão.
Habito um castelo longínquo onde um ser alado
almeja chegar. Fluviária. Aquática. Aérea.
Deixa-me ser assim. Cantora breve de auroras boreais.
Deixa-me sorrir à lua, ler-lhe a mensagem, entender os seus sinais.
_____________________________________________
Vermelho. Renomeia as cores. Faz brilhar o canto
das sereias que te encantam. Cria. Ágaro. Albatroz.
Vou contigo além-mar. Na noite que termina.
Nix, a deusa da noite, sua rainha, habitante do extremo oeste,
permite-nos o sonho em que o incosnciente se liberta.
O meu OFÍCIO DA NOITE é limitar-me a recriar.
SUSANA DUARTE
.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
ARAUCÁRIA
Fragmentos de noite terminam aqui, quebradas as asas do som
das imagens rasuradas que deixaste atrás. Os pensamentos são
incandescências que libertam e deixam fluir; cada seixo tem o dom
de fragmentar o rio, a rocha-mãe, a eterna e inevitável solidão
de um cálamo. Ocos são os entrenós. Ocos são os inevitáveis adeus.
Canta-se uma rapsódia de pedra e saliva, onde o teixo sorve a água
e se torna arco de guerra. Da rapsódia da noite erguem-se os teus
flocos de chuva quente em que se enrola e aquece uma antiga mágoa.
Mágoa de tempos, odores-canela, chuvas frias de noites sem fim.
Em Fevereiro, florescem acácias. Do amarelo-inverno que irrompe delas,
renova-se o voto de um florescer sereno, enquanto na chuva de mim
se esconde o dia e acontece a noite. Uma gema de mim. Abro janelas.
Quem quer saber das cores da lua não se esconde no rio. Alecrim perfumado.
Alegria e frutas. Resina. Ar. Árvore rosácea. Suspito profundo. Mundo.
Mundo em mim. Ode eterna. Canção alada. Mar revolto que serena.
Canção de gotas de fogo e mel. Flores de anvula. Precipício, mar… vou fundo
na percepção, que muda cada estrela e transforma o sonho numa míriade terrena
de estrelas onde os campinos elevam as flores da planície ao alto das montanhas geladas de algo antigo, que reluz sob as sombras de uma araucária alada.
A descoberta de si fica para além do sonho. Eterna e contraditória busca da exatidão do SER.
( Susana Duarte)
das imagens rasuradas que deixaste atrás. Os pensamentos são
incandescências que libertam e deixam fluir; cada seixo tem o dom
de fragmentar o rio, a rocha-mãe, a eterna e inevitável solidão
de um cálamo. Ocos são os entrenós. Ocos são os inevitáveis adeus.
Canta-se uma rapsódia de pedra e saliva, onde o teixo sorve a água
e se torna arco de guerra. Da rapsódia da noite erguem-se os teus
flocos de chuva quente em que se enrola e aquece uma antiga mágoa.
Mágoa de tempos, odores-canela, chuvas frias de noites sem fim.
Em Fevereiro, florescem acácias. Do amarelo-inverno que irrompe delas,
renova-se o voto de um florescer sereno, enquanto na chuva de mim
se esconde o dia e acontece a noite. Uma gema de mim. Abro janelas.
Quem quer saber das cores da lua não se esconde no rio. Alecrim perfumado.
Alegria e frutas. Resina. Ar. Árvore rosácea. Suspito profundo. Mundo.
Mundo em mim. Ode eterna. Canção alada. Mar revolto que serena.
Canção de gotas de fogo e mel. Flores de anvula. Precipício, mar… vou fundo
na percepção, que muda cada estrela e transforma o sonho numa míriade terrena
de estrelas onde os campinos elevam as flores da planície ao alto das montanhas geladas de algo antigo, que reluz sob as sombras de uma araucária alada.
A descoberta de si fica para além do sonho. Eterna e contraditória busca da exatidão do SER.
( Susana Duarte)
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Fosfenas
Os olhos florescem nas encruzilhadas da noite.
Claros, celestes, enrubescem nas asas cerradas do voo.
As palavras soltam-se dali, do reino de todos os cantos.
Livres-soltas como águias alienadas da terra
(como se o espaço universal fosse todo teu)
Os olhos vagueiam nas horas em que a incerteza se faz luz.
Luminescentes, encandeiam as flores com que te abraço.
…cristalino desatento às sombras. Teus olhos são luz.
As fosfenas (imagens luminosas que a pressão dos dedos deixanos olhos)
São caleidoscópios de sol que atravessa o caminho.
( ... o dia regressa e será tempo de Olhar; a noite desce sobre ti
e, de dentro do teu olhar,
Magna noite, Magno Dia,
será tempo de cerejas e de o Tempo regressar).
Susana Duarte
.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso dos meus pensamentos. metade de...
-
quando vieres, traz os dedos da aurora, e amanhece nas dobras cegas do pescoço onde, ontem, navegaste os trevos do dia lo...
-
E porque hoje foi um belíssimo Domingo de sol...eis que peguei em mim e na minha tagarela companhia e lá fomos nós até Montemor-o-Velho. Hav...
-
Coimbra, cidade mágica... Coimbra é noite, é luar e desassossego.. Coimbra é rua, multidão, palavras soltas. É mulher, sabedoria e tradição....