sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

 
 
 
NEBULA

Caminhos enevoados na manhã clara, onde o sol nasce e o sonho mora...

.enevoou-se a manhã
e os olhos claros de mar e hortelã.
.enevoou-se a sabedoria das flores de Março
e calou-se a voz das aves perdidas.

... Surgiram amores de uma névoa de flores,
e flores de trevo,
e flores de amora.

Olhos de olhos que guardam rumores
de tempos antigos
e de flores de romã.

.correram vozes de estórias antigas e de bailarinas sonhadoras no ar das manhãs.
.soubemos dos olhos das garças e dos vôos das asas. soubemos de nós. amanhãs.

Amanhãs que sonhámos e rios onde nadámos sonhos de dias passados e sorridos.
Noites onde encostámos sonhos nas pálpebras silentes. Manhãs despertas e nuas.

Faz de mim a claridade dos teus olhos noturnos e a luz das tuas mãos.Tuas. Ruas.

.as ruas onde caminho são as névoas que desperto nas sombras de mim.

.antes as flores.
.antes os teus olhos.
.antes a realidade das mãos e das noites sem fim.

(Poema de Susana Duarte, sobre foto de Ivano Cetta)
.vou escrever-te na maré das cores que me habitam.

.na serenidade clara das flores, saberás onde moram.

Fomos aves feitas de ondas, desfeitas na espuma
onde as areias consomem as vagas. Fomos escunas
navegantes de águas calmas, onde a paixão habita
as estrelas. Fomos aves. Fomos feitos de espuma.
Fomos aves. Fomos flores. Fomos unos na vida
que sonhámos, ainda antes de nós, ainda antes
... de mim, de ti, da vida e do mar. Seremos, de novo,
a agitação das névoas quando os pescadores rompem
o mar. Seremos, de novo, a crispação das águas
quando as tempestades se impõem. Seremos, enfim,
a navegação solitária dos corações que se encontram
e, do mundo, se desligam e tolhem. Seremos luas.

.vou escrever-te na maré serena onde a vida nos habita.

. na serenidade do coração que reconheço, seremos,

                               enfim, o futuro que prevalece sobre as trovoadas.

Susana Duarte


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Saltei pontes navegando rios de nuvens
e flores de estrelas gastas e átomos de momentos sós. 


Fui noite na lágrima escura da ausência
e mar revolto nos momentos da tempestade de 
uma lua inquieta.


Saltei ribeiras na procura de diamantes
e flocos de neve escondidos sob a areia dos elementos:
nós.


Serei, ainda, por momentos, a chuva por cumprir
e o ar dos dias que passei, e a evidência
da procura das mãos e dos rostos.


Sós.
Procuramos arco-íris na calada da noite
e atrás de cada um, vislumbrando a serena agitação da paixão.


Procuramos diamantes residentes na praia
das areais revoltas pelo vento do olhar.


Somos. Somos a ânsia do repouso no olhar de cada um
e a precisão do relógio da vida
que nos cruzou
e decidiu.


Serei sempre aquela mulher que salta pontes
sobre rios de nuvens, e flores de estrelas gastas, e átomos
de momentos dispersos na enernidade.


E nesse ser, serei procura.



Encontras-me onde os olhos te dizem do meu cheiro
e onde as nuvens me cobrem por inteiro, e onde
gatos passam nas ruas e se cantam fados e mulheres


nuas se revelam dentro dos corações íntimos da noite.

Susana Duarte

sábado, 18 de fevereiro de 2012

RAMOS

vou escrever um poema em forma de árvore, cadavre-exquis
de uma existência estranha. soberana, a árvore impõe-se e
eleva-se nos braços das bermas que percorro, e entranha-se
a beleza, e a doentia estranheza, de ter uma árvore no peito.
deito as sombras sobre os ramos e refaço os passos no leito.
vou escrever palavras em forma de poema, e das palavras,
sobrarão estrelas que habitarão a ponta de cada ramo. abres
as portas dos ramos e encontras a poeira da estrada, a beleza
da caminhada, cada sombra escondida, cada asa, tão ferida,
como as asas de uma ave nascida muda. vou escrever sonhos
onde as nuvens habitam pensamentos, e cirros são algodões
de mim, flutuantes em cada linha do poema por escrever.

Susana Duarte
 
.escreve-me um poema feito de grinaldas de flores
e, se quiseres, entrega-me rosas.
.deposita-as sobre a mesa
onde, distraídas, se consignam a uma folha branca.
.se puderes,
se souberes dos beijos,
descreve-os em movimentos brandos,
sobre a mesa despojada onde deitaste,
antes,
as lágrimas.
... .escreve-me um poema feito de marés invadidas
por algas verdes e pelo nácar de pérolas antigas.

.se souberes das flores, se souberes das algas...
...se ousares amores, e cálidas margens de veias
azuis, escreve o poema sobre a minha pele e,

desprendido das águas fortes das ondas, deixa-te

transbordar das rosas

e de mim.

Susana Duarte
 
 
 
apetece escrever sobre as coisas que não sei
e, defendida das brumas, enredar nas palavras
as dúvidas que brotam do seio das flores residentes
no mar. apetece fazer luares sobre as fosforescências
das escamas de peixes raros, escrevendo nelas as luzes
habitantes dos pormenores que fazem de cada onda, o
mar alto da nossa existência. e nelas, galgar essências
de flores caiadas dos dias onde, antes, escrevemos
a realidade das marés envergonhadas onde, sendo,
somos tão sós como a sabedoria rasa das aves.

Susana Duarte

domingo, 5 de fevereiro de 2012

rasgam-se nuvens           na ânsia de construir arco-íris
e despega-se o sol                            do recanto onde aquece
e ilumina                      as almas cansadas. rasgam-se rios
para ocultar mágoas ...                      e rasgam-se as mágoas
para tornar nula               a estrada                     de estar só
nas noites onde se escondem estrelas                soturnas                       
de brilho débil                      ténue
enfraquecido                         pelas sombras de uma estrada
insegura,                                                          que não sei ainda.

Susana Duarte

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...