GELO
havia um coração de gelo, onde o gelo
se tornava eco. encontrei-o numa rua,
onde o gelo era oco. onde as ruas eram
nuas, e o gelo, eram ruas abertas
onde o coração sangra, e a mulher ri,
e as neves caem. na neve, eu vi a ave
derretida onde se me desfez o peito,
e a rara solenidade dos momentos sós,
onde planam cegonhas e fogem ecos
de um coração fugidio. sou eu. sou eu.
sou o eco daquela neve, daquela rua,
do coração que me vê nua
e das neves derretidas na sombra da vida.
Susana Duarte
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
sexta-feira, 16 de março de 2012
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