sábado, 21 de abril de 2012

as aves solitárias
moram na bainha das folhas,
e migram através das nervuras,
e desfolham-se no limbo;
atravessam pecíolos, e navegam ondas de som desfocado.
as aves solitárias
moram nos espinhos achatados,
mas almejam a endoderme do sonho.

moram na endoderme do sonho.
...
as aves solitárias têm a forma obcordata do amor,
e desenham cores variegadas na confluência dos toques

das mãos.

Susana Duarte
Pintura de Nicoletta Ceccoli

sexta-feira, 20 de abril de 2012

...mulher desnuda na alma luzente,

semeadora de luzes

onde a luz poente

se detém...abismo

de onde se levantam as luzes do ventre,
...
e se vislumbram transparências

na lucidez

das águas; nela, crescem e se afundam mágoas,

e as esguias margens de um rio.



...mulher desnuda nos braços amados,

plantadores de sementes

onde as névoas se dissipam

e as quedas acontecem no seio de braços

devolutos à sua eterna condição

de ser em outrém,

na bravura das ondas que são corpos,

movimentos sincopados

de um oceano vivo

dentro dos olhos,

ágape dos cristalinos,

melopeia coralina

das imagens dos amantes.





amar acontece no espaço do corpo

onde tempo e distância se tornam

universo inexistente. primavera de giestas vivas

onde a lava incandescente

são folhadas caídas da pele,

escamas vivas de sermos Um,

na imensa amálgama do universo.


Susana Duarte

(Pintura de Nicoletta Tomas)
 
 
 

terça-feira, 17 de abril de 2012

SÚPLICA


ouve-me nos movimentos das pálpebras,
onde é sonora a ausência em que habito;
onde se espraiam vozes sumidas; onde
vivem giestas, e piam aves estranhas...


olha-me nos recantos da paixão antiga,
e desnuda-me os ombros de aurora. sê
inteiro, marinheiro das minhas águas e
cálida emoção que se derrete no calor
... das minhas lágrimas antigas. sê a luz
onde tudo, dantes, era ilusão de néon.

ama-me. e devora-me os olhos e a boca
e os braços com que te cerco e sinto.

sente, de mim, a lágrima de luz coberta
de seda, onde te deitas e recobres de ser
marinheiro da minha sede. ama. em mim,
encerra as noites de aves estranhas, sê
luz ansiada-procurada-antes interdita. e


ama-me.

Susana Duarte
 

domingo, 15 de abril de 2012

 
 
VIDA

morrer nas flores do teu beijo


morrer no beijo onde as tuas flores
são desejos. desejar as cores dos teus beijos.
beijar as tuas asas nas sombras da tua boca, nos recantos
dos teus sonhos, e viver, como algaço vivo, despojo das marés
onde os beijos são a vida de todas as minhas vidas. morrer.
... flor de sal das tuas mãos. nelas, viver as cores dos cantos
e as rochas sedimentares dos dias passados em nós.
morrer no beijo onde as tuas flores são desejos.
morrer no beijo dos teus beijos.

viver a vida nos beijos que desejo


morrer nas flores do teu beijo

Susana Duarte
 
 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

todos os dias, o poema
de ser poema todos os dias.

todos os dias o poema de seres poema
nas minhas veias. todos os dias, o poema
de seres verdade. todos os dias, a verdade de seres
Verdade absoluta dissolvida nas margens das artérias
e inegável Poema dos capilares do sentir. todos os dias.

Susana Duarte
Pintura de Nicoletta Ceccoli

sexta-feira, 6 de abril de 2012

que vontade, meu amor, de tornar longas as noites,
e frescas as madrugadas das gotas dos teus olhos


é aí, na nossa vontade, que sei quem sou.
orvalha-me com as gotas desse rio que se esconde nos teus olhos. orvalha-me de cores e das luzes onde nasces em mim.



Susana Duarte; foto de Ivano Cetta

cores. residem onde habitas tu. moram nas curvas dos teus olhos. sabem onde estão as pálpebras e os movimentos sonhadores das minhas noites. a eternidade reside nessas cores. é nelas que se escondem vontades e gotas de desejos. e flores nac...aradas. pétalas-sépalas-corolas de uma noite onde sou as tuas pernas, e as tuas pernas me nascem nos seios. onde há vontades madrugadoras, e as minhas mãos se separam de mim, e navegam nos teus cabelos. cores. é nelas que te vejo, me deito, te beijo e espero pelas luzes da tua boca. 




Susana Duarte
 
 

 sobre o silêncio  pesam as almas das aves, das mulheres sós e da amálgama de peles ao relento em terreno nú nas escadas paridas pelas dores...