domingo, 24 de fevereiro de 2013




ESCREVER-TE

vou escrever-te nas ondas suaves dos cabelos, e dos promontórios infinitos das tuas sobrancelhas. passeio na ponta de uma pestana viajante e deslizo por sobre as veias do rosto. nesse rosto, encontro as luas de todas as sonatas escritas na solidão das águas. vou escrever-te onde sabes que estão as aves-do-paraíso e as rosas-chá que declino em palavras suaves. vou escrever-te nas leves rugas dos lábios, onde as marés me alcançam quando me toca a húmida suavidade da tua boca. é na tua boca que encontro os rios todos do corpo. é na tua boca que deslizo quando, em horas incertas, me refugio na navegação azul das lágrimas. e é por ela que me escondo nas partes incertas dos dias. vou escrever-te na navegação das línguas e no incerto movimento das costas. vou escrever-te onde sei das tuas sombras, e onde me resgatarás das minhas. na tua mão, andarei milhares de anos, de vidas incertas, anteriores a nós. procurar-te-ei em todos os recantos da vida-demanda dos desertos-corolas de flores incertas. 



Susana Duarte



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