GENCIANA
queria uma palavra azul para te descrever as sílabas que, de ti, vejo sair,
como aves que exploram o infinito. trémulas, no início, inseguras da paixão;
seguras quando, eternas, se deitam na minha mão e atingem o seu devir.
eu e tu somos uma flor gamopétala.
descreves em mim linhas. voas-me nos dedos das pálpebras dos sonhos
e procuras-me, no rosto, o sorriso crescente da estranheza-encantamento;
seguras-me as mãos quando navego à procura de sílabas e de medronhos
que descasco, um a um, nas mãos que ocupo com a imagem do teu lamento
quando a vida, por breves momentos, tolheu de nós as palavras e os voos.
eu e tu somos uma flor gamopétala.
escrevemos páginas de sonhos em folhas de flores azuis e em sombras
de noites irrequietas. Sábias são as cores místicas do sonho – horizonte
onde as asas encontram as sílabas e as sílabas se tornam o teu nome…
és a palavra que nunca se esconde, a floresta de árvores sem penumbras
onde me deito, aliada das asas de um anjo como se o anjo fosse a fonte
da vida quem em mim almejas. em mim, tiras a sede e matas a fome.
eu e tu somos uma genciana azul.
do azul-maravilha e espanto, nasceu uma ilha e a terra de uma sonolência
serena, que nos transformou na etérea luz de uma sombra chinesa, onde
nos escondemos para viver a esplendorosa cor azul-onírico de palavras-sonho.
Eu, e Tu, somos o Sonho consubstanciado no encontro das marés,
e na confluência dos toques,
e nos remos.
Susana Duarte
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum, Edições Literárias
Alphabetum, Edições Literárias
Dezembro de 2012
Prefácio: Maria Elisa Ribeiro
Fotos: Ivano Cetta
(a foto aqui presente é pessoal)
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