terça-feira, 22 de setembro de 2015

talvez o poema



talvez o poema só nasça


depois de ter sido escrito na pele,


demorando-se sobre os cílios






e as curvas lentas dos braços




-depois de, neles, ter residido a aurora, 


madrugada de sal. 









se o poema nascer


depois de uma aurora de sal, talvez 


saibas, então, da ausência






dos homens,


e das vidas esgotadas


das flores azuis


que enchem prados anónimos.










o poema poderá nascer das raízes


onde, ocultas, se entranham 


as inverdades que, no íntimo,


repetimos aos olhos






e, depois, decalcamos nos poros


sedentos


de toda a pele,






onde queremos ver escritas


as palavras


húmidas e sedentas (talvez


as mais raras), da boca










onde, então, calamos 


toda a angústia.









Susana Duarte



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