sexta-feira, 29 de agosto de 2014

as pessoas são estranhas, entranhas de coisa nenhuma



as pessoas são estranhas, entranhas de coisa nenhuma, cheias de vento

onde as mãos se acobardam. as pessoas são assim: uvas apodrecidas

pelas chuvas de verão, inconstantes e incoerentes como as nuvens e os gestos

que dizem ser, mas de que nunca são capazes. as pessoas são assim, estranhos

movimentos em redor das luzes, das quais fogem quando alguém as acende

e, por dentro, as incendeia de um fulgor que temem. são apenas pessoas,

e as pessoas nada são, senão as sementes do que, um dia, na infância, sonharam 

ser. e não são. são apenas pessoas, híbridos de luz e escuridão, de palavras 

sem corpo, e de corpos de nada. de nenhures. de coisa nenhuma. porque são

finitas, ao contrário das pedras, elas próprias erodidas pelo vento. as pessoas, não,

são apenas isso: pessoas, finitas e frágeis e receosas das intempéries que residem

nos olhos dos outros. protegem-se atrás das palavras, e nada são, senão 

o que sonharam ser, num tempo longínquo de amoras bravias colhidas pelas mãos

pequenas, de cerejas tiradas do alto, mais maduras e grandes, sem medo de cair,

e de dedos-de-bruxa colados aos dedos, encantadores e roxos na sua simplicidade.

as pessoas são estranhas, entranhas de coisa nenhuma, cheias de vento

onde os gestos se acobardam. são assim: coisa nenhuma. são medo e fuga.

as pessoas são apenas isso, e por isso, nada são.



2 comentários:

  1. Bom dia
    Um texto para meditar e depois guardar cá por dentro do ser espiritual que nos forma.
    Muitos que parecem ser mas não são. Vivem uma vida de mentira assustados com a verdade. Trocam o mais importante e ficam-se por um parecer - fingimento.....
    Tanta hipocrisia...

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