deixar os dedos onde as árvores falam e as aves
calam memórias, mantém vivos os nós dos dias
e a imprecisão dos sonhos. não sei de onde vêm
as absurdas imagens que persistem nas veias,
ou as fotografias tiradas sob a luz esmaecida
dos tempos. deixar as aves calar as memórias,
desabita a retina e deixa vítreos os grãos de areia
outrora revolvidos por mãos ansiosas, ágeis,
descomedidas nos toques e na procura dos corpos.
outrora absurdas, as veias ondulantes, mulheres
desmedidas e intensas na avidez dos olhares.
mulheres. grãos de areia nos corpos amantes,
vítreas nos olhares com que se estendem, aves
elas próprias, na ignomínia dos abandonos.
Susana Duarte (poema e foto)
2016
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