quinta-feira, 15 de novembro de 2018



eras tu, a árvore da minha vontade
de voar para onde as aves
falam de naufrágios 
e de arribas 
escondidas


pela erosão fácil da alma.

perdi os dias a falar com as ondas,


e as noites à procura do ar
lento que as aves
soletram,

apátridas

como as almas que deambulam
ao largo, onde o sargaço se move
e a praia é um lugar longe.

longe de ti, longe de mim 
e do mundo das pessoas,
procurei ainda a sombra
azul das águas

entristecidas

pelas marés estranhas do ser.

não soube ir além da foz e, todavia,
eis o sorriso fácil da árvore
da vida, nascido
dos teus olhos
e derramado
como luz sobre a maré

onde, outrora, me uni 
às arribas fósseis da vontade
de navegar,

para, em ti, ser soluço,
voz de ave,

maré indissolúvel.

Susana Duarte


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