Mágoa
(ouvindo «Corpse Bride, piano duet»)
acendeste mágoas onde os seios descansam
amas como as metáforas das romãs,
e sabes ainda a noite,
e sabes a dia, e sabes às manhãs ígneas
da abertura dos olhos e das nuvens brancas.
acendeste mágoas, e por isso, sabes aos dias
de antes, e ao esquecimento, depois.
sabes às dores do peito, incendiado pela solidão das noites, onde as sacerdotisas nasciam, fluxos de terra, e de seiva, e de luz. sabes a tudo,
e sabes a mágoas acesas pelo fluxo
da noite.
acendeste as águas do ventre, que depois calaste amas como as rubras
manhãs do desejo, e sabes às maçãs colhidas no arco da primavera;
revejo-te, obelisco erigido em mim,
culto das manhãs onde te espero.
Susana Duarte
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
domingo, 29 de dezembro de 2019
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