sexta-feira, 28 de setembro de 2012


 
 
 
somos aves. somos flores. somos mágoas.somos névoas dissipadas. somos fráguas. densas rendas desenhadas sobre o vento. densas lendas desenhadas no desalento. densas aves desenhadas no papel. suaves flores. suave mel. somos ausência. somos dúvida. somos dor. somos obra vasta, penhor das nuvens, borboleta. somos a renda escavada numa gruta. desenho leve das águas. lenta dúvida que se desfaz. trégua na noite. suave onda. somos estrela alva na aurora desfolhada. breve canção, montanha escalada. somos a folha e a gota de orvalho, a fada etérea e a rocha e o galho. somos teixo, égua, albatroz. somos fruta. somos noz. somos deserto nas noites coalhadas. somos água e bico e sede. somos tudo. somos nada. somos vida. somos morte. somos acaso, destino, sorte. somos deuses e maçãs. ruas. estradas. manhãs. somos eu, e somos tu, e somos um e outro, cada um do outro. somos a vida. somos a morte. somos cítara e somos sorte. música, fuga, escarpada. somos tudo. somos nada. somos a soma de todos os outros, antes de nós. a voz das fontes, a voz da voz. somos um, e somos outro. e descobrimos a fonte da vida, na água que jorra da boca de cada um. somos infindos. somos unos. somos, sobretudo, quando somos juntos. abraço o teu infinito. somos aves. somos flores. somos céu. desdobra-te em mim. despoja-me de mim. sejamos o começo. e o fim.

susana duarte
(imagem: google)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

as aves solitárias
moram na bainha das folhas,
e migram através das nervuras,
e desfolham-se no limbo;
atravessam pecíolos, e navegam ondas de som desfocado.
as aves solitárias
moram nos espinhos achatados,
mas almejam a endoderme do sonho.

moram na endoderme do sonho.

as aves solitárias têm a forma obcordata do amor,
e desenham cores variegadas na confluência dos toques

das mãos.

susana duarte
 
foto de ivano cetta
 

domingo, 23 de setembro de 2012

sauda-me a tristeza, a partir das janelas de onde, antes, brilharam estrelas de vida, ante a visão de ti e das tuas carícias. sauda-me, e eu deixo. sauda-me a saudade, e eu deixo. sauda-me a vida que tive dentro, quando contigo sonhava. e eu deixo. saudas-me tu, no abraço demorado que me deste e, todavia, me prometes. e eu deixo. sauda-me a tristeza, mas não te deixo partir. sauda-me a vida antes de mim própria. e eu deixo. sauda-me o brilho dos teus olhos. e eu deixo. neles vivo. neles morro. e eu deixo que a vida me preencha de vida. e eu deixo que a vida me preencha de morte. e eu deixo. mas deixo sobretudo que o sonho não morra. deixo que me vivas. deixo que me habites cada movimento das pálpebras. deixo que me sonhes. deixo que tenhas saudades de mim. mesmo quando a tristeza me habita. mesmo quando a saudade me desespera. habitas-me. não sei ser sem ti.
 


susana duarte
 
foto de Ivano Cetta
 

 

domingo, 16 de setembro de 2012

Um poema meu, traduzido pela querida amiga Tiziana Calcagno (gracias, Tiziana!)

NOMBRE

Te imprimo en el borde de mis sentidos
donde el limbo apenas es un camino

salto de hoja en hoja y en la naturaleza viva de tus manos
abro mi boca sedienta del agua que sale de tu cuerpo

...
Ondeo las líneas de tu tallo y
me nutro con tu vida:

semilla,
fuente,
flor nocturna
y durazno rosado;
luz naciente
ángulo inexistente de una curva,
cuarto creciente
de mi luna.

te imprimo en el rincón ambiguo de los sueños
a la espera del sol naciente, cortante de mis venas

amplitud de navegación de las flores, en la cala
donde vestí las flores al mirarlas,

luz

cueva de lobos de una nueva montaña
donde imprimimos la especie, en los ojos azules de tu boca

te imprimo en el borde de mis sentidos
donde el limbo es el margen de la vida

por medio de encrucijadas y ligaciones extrañas
pero donde siempre reina tu nombre…

susana duarte
Tradução: Tiziana Calcagno
POEMA

todos os dias, o poema
de ser poema todos os dias.

todos os dias o poema de seres poema
nas minhas veias. todos os dias, o poema

de seres verdade. todos os dias, a verdade de seres
Verdade absoluta dissolvida nas margens das artérias
e inegável Poema dos capilares do sentir. todos os dias.

susana duarte

sábado, 15 de setembro de 2012

NUDEZ

estou nua,
e o espelho, à minha frente.

oiço a passagem de uma borboleta azul
que se poisa no ombro onde, outrora,
habitou a suave flor de um beijo, e o sabor
das romãs, desocultadas da noite,
vencidas pelas manhãs cansadas
...
do amor e da seda
dos teus braços.

na nudez,
celebro as asas da noite.

a noite em que, nua, me desfiei sob o olhar
que me navegou e,
sonhada,
desviei os medos
e todos os anseios anteriores.

escondi-os num rio oculto,
onde fingia viver,

e nas tuas mãos,

através das tuas mãos,

descobri-me perseida
na nudez
dos teus braços.

susana duarte

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

SÚPLICA



ouve-me nos movimentos das pálpebras,
onde é sonora a ausência em que habito;
onde se espraiam vozes sumidas; onde
vivem giestas, e piam aves estranhas...


olha-me nos recantos da paixão antiga,
e desnuda-me os ombros de aurora. sê
inteiro, marinheiro das minhas águas e
cálida emoção que se derrete no calor
das minhas lágrimas antigas. sê a luz
onde tudo, dantes, era ilusão de néon.

ama-me. e devora-me os olhos e a boca
e os braços com que te cerco e sinto.

sente, de mim, a lágrima de luz coberta
de seda, onde te deitas e recobres de ser
marinheiro da minha sede. ama. em mim,
encerra as noites de aves estranhas, sê
luz ansiada-procurada-antes interdita. e

ama-me

susana duarte
 
 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

MAR

na baía, encontrei uma concha
e os olhos da lua, num pôr do sol distinto e
inscrito na maré baixa,
onde deixei um pé preso nas algas
e me tornei o sonho de uma sereia que, na praia,
criou pés e, distraída,caminhou
em eternos sonhos de orvalho,
recitados num teatro onde a luminosidade
estranha

da noite,
a deixou perdida nos recantos do mar.

tornei-me navegante dessa concha,
consciente do tempo passado e futuro,
que pinto e
habito,
como se uma tela me deixasse eternizada

no mar que salgas

e transformas em chuva pálida na manhã serena.

Somos nós, nas marés,
que criamos cenas da vida que escorre na areia
e deixa marcas de pegadas
nos locais onde somos, em cada luar, seres mágicos e

indistintos.
Navegar.......

Navegar é o sonho
cavalgado pela lua cheia

numa onda que não há.

Mar.
 
 

 susana duarte
 
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

escreve-me nas flores da tua alma,

como escreves o azul
dos espaços
dos meus olhos.

.escreve-me nas janelas que abres,
 e nos caminhos-de-ferro
que percorres nas tardes
 em que as partidas

se transformam em corvos soturnos.

escreve-me na vida
 das vidas que vivemos,
e nas orvalhadas em que acordamos
e nos sabemos sós,


 eu em ti, tu em mim.


febre da chegada e do sabor
da flor
e da noz.

 .escreve-me.



.serei o mapa dos trilhos que percorres.

susana duarte
il sogno è un petalo di rosa... di Paolo Staglianò


Il sogno è un petalo di rosa...
dal
confine il cupo tono
...
di lontani rombi:
taglia dritta una pioggia fine:
è una compiuta rete la distesa.
un canto spegne ogni eco che risuona:
e non umani valicano cortine ]
un tempo diviso segna la mancanza
di un evento:
le tessere bianche
d’un domino infinito colmano
l’urlo di ogni cosa muta:

il sogno è un petalo di rosa…
il vapore lieve d’una follia bambina:
l’erba verde d’una età smarrita,
occulta al viandante il mito oscuro,

delle vigorie disfatti di falliti amori
che rincorrono le viole:
la mano perduta o rinata nei dadi
di una sorte riporta a lontane intese:

[ foto ingiallite nelle baite deserte,
ruotano dentro il vortice eterno delle ore ]

il sogno è un rincorrersi di ombre:
il gioco brioso del non vissuto:

lungo il viottolo taciuto delle more ]

Paolo Staglianò - il sogno è un petalo di rosa... da
[ Proxima del centauro ]Proprietà letteraria riservata
© 2012 by CSA Editrice




sábado, 1 de setembro de 2012

escreve poemas nas coxas da noite
e dela, faz nascer aves coloridas e
noites de paixão. das aves que tens
nas pernas, faz um canto de sal e dor
para, depois, transformares a dor
no suave suor de um sorriso trémulo

ante a visão do ser amado. sê. ousa.

vive nos olhos azuis da primavera
dos teus seios. e transforma-os na
nascente de todas as águas do mundo.



susana duarte
 

QUIMERA

diz-me onde moram as estrelas de Cassiopeia
e as luzes da candeia, que os pescadores empunham
na noite amada dos sonhos alados, de trovadores-cantadores
e de castelos, antigos e belos, onde me guardas num recanto, numa ameia,
e me transferes das estrelas para o alto das belas trovas que entoam sonhadores,

sonhadores-fazedores de estrelas, de louvores e de jóias raras, encontradas be...
las
e tranformadas em velas que iluminam o teu rosto de amante de uma sereia
que, no fundo do mar, perdeu a capacidade de nadar e ganhou a de voar,
e voou nas estrelas de cassiopeia, onde construiste uma ideia
maravilhosa de não-solidão e de não-espera. Quimera?

_______quimeras são sonhos e seres fantasmáticos; alegorias de um desejo
e de amores erráticos que, finalmente, encontram a raiz do ser na luz
eterna da navegação dos desejos__________
 
 
susana duarte (poema e foto, as usual =)
 
 
 

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...