cansada. cansada das noites, das noites de nada;
cansada do pó, poeira, estrada que me leva a tudo e não leva a nada;
cansada do fumo das névoas e das engrenagens de tudo o que não funciona
e não segue e não vai. cansada das névoas das fráguas das mágoas e do eterno
descontentamento do peso dos braços do peso dos braços do peso do corpo
que não sabe onde se é.
cansada das cataratas nos olhos da mente e nas névoas das chuvas das gentes
que me passam ao lado, anónimas indigentes com olhos de tudo, com olhos de
nada,
com olhos cansados da dureza da estrada.
a poeira das estradas é apenas poeira de sons obscurecidos
pela noite desencantada, onde cantam gatos nas vielas e passa uma mulher,
assustada.
uma noiva, uma mulher, uma alma deixada só,
ou apenas a solidão em forma de lágrima,
de alguém que se desfaz de um nó maior que a alma, maior que a calma
aparente das ruas noturnas, desertas, soturnas,
onde me sinto bem com os gatos e os sons
e os sonos de janelas entreabertas
de almas desertas
que me passam ao lado, anónimas indigentes com olhos de tudo, com olhos de
nada,
com olhos cansados da dureza da estrada.
a poeira das estradas é apenas poeira de sons obscurecidos
pela noite desencantada, onde cantam gatos nas vielas e passa uma mulher,
assustada.
uma noiva, uma mulher, uma alma deixada só,
ou apenas a solidão em forma de lágrima,
de alguém que se desfaz de um nó maior que a alma, maior que a calma
aparente das ruas noturnas, desertas, soturnas,
onde me sinto bem com os gatos e os sons
e os sonos de janelas entreabertas
de almas desertas
Susana Duarte
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum Edições Literárias
Dezembro de 2012
Sobressai a harmonia fonética
ResponderEliminare o grafismo muito conseguido
Mas nada esconde o nada que o poema diz
E só quem sente sabe quanto é repleto esse nada vazio
que cansa e cansa
Bjo.
Beijo enorme, Filipe.
EliminarBeijo enorme, Filipe.
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