domingo, 23 de fevereiro de 2014

triste melancolia do corpo nú

quando amanhecer, não estarás aqui.
serás só a sombra inóspita dos corpos-
amantes de ontem. quando amanhecer,
serás a névoa que antecede a chuva,
e os trigais ceifados dos meus olhos.

na insólita melodia dos corpos-amantes,
ficas apenas enquanto o sol amadurece
as mãos, e os corpos se digladiam 
sob o antecipado adeus. na triste
melancolia do corpo nú, antecedes
a manhã, e as chuvas de maio. quando
amanhecer, o teu corpo será o breve
traço de luz desenhado nos lagos. 

quando amanhecer, procurarei por ti.
quando amanhecer, procurarás por mim.
mas teremos já partido para o lugar 
onde as águas se movem, e o dia
recomeçará em cada um de nós, 
insuspeito, inóspito como o deserto
de estarmos sós. quando amanhecer.

Susana Duarte
Foto: Susana Duarte

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