segunda-feira, 5 de março de 2018



“(…)

RAOMOMAR



amor confuso, amor repetido, amor esotérico,

[amor mágico.



– MAR



mar perdido de conchas no meio do mar

mar de marés justapostas de amor num mar

[de marfim.

perdido no teu joelho de marfim.

mar de bosques que anuncia ao estrangeiro

[terra perfumada

oceano no teu oceano de olhar

Isís a mulher de Osíris ? – a realidade misturada.

no MAR.

mar que te apontei do alto da torre coberta

[pelo nevoeiro

pelo avião que atravessa o espaço

pelo incêndio que percorre o mundo

[num autocarro

pelo soerguer do teu corpo semi-quente

[na madrugada



mar azul-vermelho queimado de arestas

mar de dedos frios, de velas sibilinas na noite

[de cristal

mar de sonâmbulos esquecidos a medir o espaço

[com fitas de estrelas

mar de passageiros estranhos e abismados

mar de casas altíssimas onde habitam as cidades



MAR para que não me chegam os olhos

Mar branco de nuvens sobrepostas para lhe

[podermos passar por cima

Mar de esquecimento, de objetos sensíveis

[e distintos

Mar onde guardei o aquário azul que trouxe

[até hoje na memória

e só hoje te espalho para o mundo MAR

onde é possível e provável o envenena

[mento total da espécie.

onde descanso a minha mão esquerda

[sobre uma pantera negra

e todos os dias mergulho em fogo



Amor sem nexo, amor contínuo,

[amor disperso – MAR



mar com uma bala direita no cérebro

mar sem apoio em nenhum ponto do espaço, mas

preso apesar de

tudo numa enorme teia diabolicamente construída

para conseguir

ser livre

mar de submarinos insondáveis que navegam o

infinito do mar

mar espacial de sons, de cores, de imagens, de mil anos passados

que percorremos



MAR que flutua no MAR abusivamente medonho



amor esquecido, amor distante, amor insolente

RAOMOMAR

(…)


António Maria Lisboa (Lisboa, 1/8/1928 – Lisboa, 11/11/1953)
Poeta.

Sem comentários:

Enviar um comentário