segunda-feira, 25 de novembro de 2024

 irrequieta perante o desconforto das lágrimas


(talvez quieta quando me abraças, inquieta

quando me percorres com os dedos 

e me abres caminhos na pele)


sorvo o ar que respiras e páro de nadar

sob o teu peito, suspensa como o ar rarefeito


do que desconheço, e protejo, e calo,

e transbordo, anoiteço e durmo

sem ar e sem sombras e sem luz e sem ti


mas contigo e com luz e com ar e com dia

e com noite e com passos 

e com a caminhada que desconheces

e intuis, e renegas, e entregas ao futuro 


das promessas que fizeste - a ti, a mim, 

aos dias e ao que desejas e não sabes.


irrequieta perante o desconforto, quieta 

diante das certezas, talvez inquieta 

       na amálgama das mãos e dos pés 

e dos braços e das peles e dos corpos


 quando transbordas de dia e de mim:

pele suave de ave perdida, no vôo incerto

            da vida que tens dentro ,

   no afogamento lento das incertezas

e nas vozes situadas num recanto dos braços .


Susana Duarte


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